Ao invés do que acontece em Portugal,
onde é preciso manter o cartão na máquina até ao fim da operação, para levantar
dinheiro nas máquinas automáticas indianas introduz-se o cartão na ranhura,
retira-se de imediato e só depois começam a surgir as indicações do código
secreto, do tipo de operação a realizar, etc.
O problema é que nada disto nos é
explicado em lado nenhum, de modo que levantar dinheiro nunca foi fácil ou
imediato sempre que precisei de o fazer e, algumas vezes, desisti mesmo de o
concretizar pois a fila indiana que se ia formando nas minhas costas intimidava-me.
Mas ontem, em Panaji (nome
pós-independência da capital de Goa, mas que toda a gente continua a apelidar
de Panjim – o velho nome português) era imperioso que o fizéssemos, pois nem
dinheiro para pagar o almoço tínhamos no bolso.
A caixa automática mais próxima não
era uma daquelas incrustadas numa parede, que são pouco frequentes na Índia,
mas antes das que ficam no interior de um cubículo a que se tem acesso por
porta de vidro. Lá dentro, sentado numa cadeira, como também é costumeiro em
África e por aqui, estava um vigilante, um guarda, para garantir que nada de errado
acontece e que a ordem pública flui naturalmente.
Introduzi o cartão na máquina e, tendo
já interiorizado a necessidade de o retirar logo, assim o fiz com toda a
celeridade. Mas aquilo entupiu e, no ecrã, apareceu o meu velho conhecido
“impossible to read your card, make sure that it is inserted in the right
position...” Suspirei e preparava-me para inserir o cartão uma segunda vez
quando o guarda se levantou da cadeira, deu uma olhadela à máquina e me arrancou
o cartão da mão. Depois, examinou o quadrado de plástico, deu-lhe uma assopradela
e esfregou a zona da banda magnética na fralda da camisa. Finda a limpeza,
enfiou-o na ranhura, retirou-o, devolveu-mo e ficou por ali até aparecer a
indicação para introdução do código secreto, solene momento em que se afastou
um pouco. Sorri e agradeci, preparando-me para conduzir o resto da operação.
Mas mal tinha digitado o último número do pin,
eis que o tipo toma outra vez conta do ecrã e do teclado e, sem me dirigir
palavra, marcou a opção levantamentos,
escolheu a opção apresentar recibo e,
ainda não satisfeito, digitou, sem mo ter perguntado, a quantia de dinheiro que
eu iria levantar, isto é martelou nas teclas o valor máximo diário de um
levantamento na Índia: 10.000 rupias, o que corresponde a cerca de 160 euros.
Quando o dinheiro foi vomitado no
dispensador lá estava a mãozinha dele para o apanhar e o mesmo sucedeu quando o
recibo, como uma língua de fora, emergiu das entranhas da máquina. Dada por finda
a missão, passou tudo para as minhas mãos e, com o mesmo ar mal disposto e algo
entediado, voltou a sentar-se na sua cadeira, não se dignando sequer responder meu
alarpardado agradecimento.
© Fotografias de Pedro Serrano: (1) Panjim; (2) Kochi. Índia, Janeiro 2012.
Gostei de:
ResponderEliminardeu-lhe uma assopradela e esfregou a zona da banda magnética na fralda da camisa.
:))
Bj. Dj