30 julho 2012

VISITAS AO FIM DA TARDE


© Fotos: Pedro Serrano, Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde, 30 Julho 2012.

29 julho 2012

ENTRETANTO EM CABO VERDE: Cooperação internacional


Acabado de chegar pela madrugada, fui hoje ao Pão Quente (na filial aqui da Achada de Santo António), comprar umas garrafas de água para ter no frigorífico do apartamento, pois está um calor que não se pode!
No Pão Quente, a técnica de pagamento consiste em ir acumulando num papelinho o que se vai consumindo na mesa, pagando-se tudo à saída.
Na caixa, mesmo por baixo do retrato do Dáti (veja o texto O Táxi Humano para perceber quem era), o rapaz de serviço, um míope como eu, reparou no meu sofisticado, porém automático, processo de mudar de óculos, isto é: tirei os óculos de lentes brancas da cara, extraí da embalagem os de sol e pu-los na cara, e devolvi os de lentes brancas à embalagem de onde retirara os escuros.
“Também são graduados...?”, perguntou o rapaz, vivamente interessado na solução.
“Claro, de outro modo não veria nada...”
“Ah...”, disse ele mirando-me a cara com atenção.
“Quer experimentar?”, propus, pois percebi que daquele intercâmbio poderia nascer alguma decisão óptica.
Ele quis e quase gemeu de maravilhamento ao sentir a tonalidade, entre o castanho e o alaranjado, daquela visão do mundo.
“Ué, fica tudo mesmo mais escuro...”
“E tem uma visão nítida ou vê tudo um bocadito embaciado?”
“Vejo um pouco embaciado...”, concluiu ele, levantando e baixando os meus óculos sobre o nariz.
“É que a sua miopia deve ser diferente da minha”, comentei, “quanto é que você tem?”
Ele não sabia, mas, em alternativa, ofereceu-me os óculos dele para eu experimentar, desculpando-se da rachadela vertical de uma das lentes, coisa que teria de mandar compor um dia destes.
“Também vejo tudo um bocado embaciado”, esclareci, usando a moça que comprava pão ao balcão como mira técnica da nitidez factual.
Devolvi-lhe os óculos, ele estendeu-me os meus, informando que, se calhar, ia adoptar a minha técnica: um par de óculos conforme a situação.
“Para mim, ainda é o melhor: há umas palas de encaixar nos óculos normais, mas é uma chatice, nunca fica tão bem...”
Ele torceu o nariz, sabia do que eu estava a falar e também não apreciava o resultado final.
Depois sorrimos um ao outro, como que ressalvando o benefício da troca pela qual tínhamos acabado de passar, ele ficou a atender a moça do pão quente e eu, ajustando os óculos de sol, arrisquei-me ao bafo inclemente da tarde. 
© Fotografia de Pedro Serrano, Praia (Santiago), Julho 2012.

20 julho 2012

SEM VOCÊ


Chico Buarque interpreta "Sem Você" de António Carlos Jobim e de Vinícius de Moraes.

15 julho 2012

MISTÉRIOS DO COSMOS


No meu quarto do hotel Kosmos, em Leipzig, na parede fronteira à cama, estavam penduradas duas fotografias emolduradas de um casal, e que, apesar de serem duas e separadas pelas respectivas molduras, formavam um todo, de tal modo constituíam um casal. Eram, ou tinham-se tornado, até fisicamente parecidos.
Pela roupagem, sou levado a supor que a fotografia data do fim do século XIX, dealbar do séculos XX, e a senhora tinha uma presença impressionante, aqueles olhos claros e intensos deixavam marca na memória e dava comigo a olhar para ela de soslaio quando, à noite, regressava ao quarto, como se estivesse a prestar contas a pessoa que tivesse um qualquer ascendente familiar sobre mim.
Para além desse mistério, a moldura dela encerrava um outro: uma mancha de humidade parasitara o quadro, instalara-se, com a fixidez das presenças definitivas, cristalizada no formato exacto de um copo de pé alto. Que faria ali e que se teria comemorado antes de eu, num fim de tarde incerto do século XXI, ter rodado a chave do quarto 31 do Hotel Kosmos?
© Fotografias de Pedro Serrano, Leipzig (Alemanha), Junho 2012.

08 julho 2012

SUSTO!

© Fotografia de Pedro Serrano, Ikau (Bengo), Angola, 2008.

03 julho 2012

HÁ COISAS PIORES!


Na Alemanha, os motoristas de táxis são corteses, devolvem o troco ao milímetro, ajudam os clientes a enfiar as bagagens na mala e não cobram taxa extra pelo seu transporte. O mesmo pode ser dito dos chauffeurs de táxi espanhóis no que se refere à cortesia e ao modo como lidam com as malas. Quando ouvem rádio, tal como os seus colegas alemães, fazem-no no mínimo do volume e não há colunas a berrar o que ouvem para os assentos de trás.
Eis-nos regressados à pátria num Domingo, final de dia em dia de final do Euro 2012. Na Portela, à saída do aeroporto, a bicha para os táxis tem aqui um aspecto menos industrializado do que no aeroporto de Barcelona. Como motorista calhou-nos um brasileiro amulatado que demorou a sair do táxi o tempo suficiente para que, quando chegou ao nosso lado, já eu tivesse aberto a mala e estivesse a encafuar as malas lá dentro.
A meio do trajecto, e visto que o automóvel era dele, ligou o rádio bem alto, pois eram horas do começo do jogo. Ao chegar ao nosso destino, depois de receber o dinheiro que lhe era devido, bem sentado no seu lugar, perguntou se não nos importávamos de tratar nós de ir buscar a bagagem às malas. Possivelmente face ao ar meio admirado com que o mirámos achou por bem explicar:
“É que tou com as costas estragadas – ontem à noite a namorada rebentou-me todo!”
© Fotografia de Pedro Serrano, Lourinhã 2011.