14 abril 2020

COVID19: DEPOIS DA PÁSCOA, O CARNAVAL

Pode o Carnaval suceder à Páscoa? Pode a realidade ser tão relampagueante na mudança que nos deixa zonzos? Pode. 
Foi o que me sucedeu nos últimos dois dias e de tal modo me senti vertiginoso que tive de ir reler alguns dos textos que escrevi por aqui sobre o uso de máscaras! Ainda somente há três semanas, sentindo-me o David que afronta os Golias da Organização Mundial de Saúde (OMS), do poderoso Centro de Controlo de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América ou a sua imitação europeia (ECDC), sentindo-me, como dizia, um atrevido pigmeu, tentava desmontar, um por um, os 6 argumentos usados pelas  organizações formais para o não uso de máscara, da estupidez que era o povo comum usar máscara; essa coisa de uso tão complexo que podia ser mais prejudicial do que útil, uma espécie de medicamento pleno de efeitos secundários.
Por cá, a casa gastava a copy-paste e quer o Ministério da Saúde (na pessoa da Ministra) quer a sua Directora-Geral da Saúde nos advertiam, com repetida paciência, da inutilidade e até do perigo para o uso desse artefacto, dessa ilusão. Por vezes, já  maçadas da repetição, deixavam perpassar para o espectador lá em casa alguma impaciência condescendente: "não use máscara, é uma falsa sensação de segurança; é um pano", o que, à moda do Norte, seria algo como dizer: "Ó sócio, se queres usar essa porra, é contigo, mas depois não venhas dizer que não te avisei!"
Lá na OMS, nas conferências, eles lançavam mão dum tipo irlandês chamado Michael Ryan, um ex-ortopedista de ar colérico que, quando o patrão lhe delegava os aspectos técnicos (Ryan é Director dos Programas de Emergência da OMS), nos vinha também barafustar contra as máscaras e o seu uso indevido, o qual consistiria, basicamente, em todo o uso que não fosse sancionado por eles, que estão no nível mundial. E estávamos assim, e de vez em quando lá surgia algum intrometido a falar que se calhar não era má ideia usar uma mâs..., mas os chineses... E eles que não, que era apenas um trapo, que ficava molhado como uma fralda, e que o melhor era lavar as mãos enquanto se cantavam os "Parabéns a Você" ou o "Oh corona não te quero ver mais" da Maria Leal.
E então, ontem, vi, boquiaberto e sem máscara, os nossos mais altos responsáveis da Saúde a afirmar, claramente, que toda a gente deve usar máscara, sempre, cada vez que sair para um local onde haja gente! Máscara, máscara, máscara, uma qualquer, pode até ser uma feita em casa com uma t-shirt velha ou um pano do pó, e até se inventou um novo nome para este tipo de máscara popular: máscara social. Estou deserto por folhear próximas edições da Luxe da Caras para ver como gente tal Lili Caneças e Babá Pitta da Cunha se adaptam ao novo tipo de visual e que sumptuosas máscaras sociais não irão produzir para as nossas elites os estilistas lusos mais ousados.
É verdade que havia alguma crispação na nossa Ministra, na nossa Directora-Geral, quando passaram a ter de advogar o uso do tal trapo, há sempre um travo amargo no engolir dalguns tipos de cálices e, para exorcizar o arrepio, Marta Temido afirmou mesmo, por várias vezes e na peugada do que já tinha feito o supracitado Ryan, que a máscara é apenas um complemento, um suplemento; de que nada resultará se o povo não continuar a seguir as medidas que eles já advogam há que tempos. Certo, estamos cientes!
Mas, confesso aos meus ouvintes, que estou algo preocupado com isto tudo, quero dizer, com o 8 ou 80 de que parece não sermos capazes de abdicar. A partir de agora, pode-se improvisar uma máscara em cima de qualquer joelho (faça-a em casa); a EFACEC, pós Isabel dos Santos e reconvertida à causa nacional, vai mesmo fabricar ventiladores a metade do preço do mercado! E mostraram até um protótipo, uma geringonça que parecia mais um armário metálico, daqueles onde se aloja um quadro eléctrico ou se guarda a mangueira dos incêndios, do que o ventilador de plásticos macios e abaulados made in China. Oxalá aquilo funcione, rezei a mim mesmo, reles incréu que tenho sido. Mas para que estava eu alagado em dúvida se aquilo tudo vai ser certificado pelo INFARMED? Pois.... Talvez eu esteja enganado, ultrapassado, mas a minha ideia do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, organismo dependente do Ministério da Saúde) é que se trata de uma instituição pesadamente burocrática, mais administrativa do que técnica, que se limita a conferir as bulas dos medicamentos ou a mandar retirar do mercado pílulas avariadas, após ter sido avisada ou pela própria indústria farmacêutica que as produziu ou por algum congénere europeu ou americano. Que se saiba, não há por lá gente que tenha o hábito de avalizar as entranhas de um aparelho mecânico e electrónico complexo como um ventilador. Será que se vão apenas guiar pelo folheto de garantia da EFACEC na certificação? Confesso que não me sinto totalmente seguro com todo este entusiasmo e, sendo assim, termino com uma sugestão caseira de gato escaldado:
Caro leitor/a, compre uma máscara, das certificadas, logo que possa. Não há, não encontra? Já falaremos disso e, enquanto espera, use então uma caseira — melhor que nada. Mas depois (se ainda não a tiver, pois, pelo que tenho visto, muita gente a tem) trate de encomendar algo decente, que o proteja mais seriamente do que uma posta de t-shirt. Continua a haver na Internet material de protecção individual à venda, de tudo quanto possa precisar. É caro, é mais caro do que o que deveria? Certamente, mas compete-lhe a si decidir as prioridades: vale mais gastar 35 euros por duas máscaras FFP2 (bico de pato, protecção 95 %), ficar a discutir as perversões da especulação, ou ir parar a um ventilador? 
E algumas destas máscaras podem ser reutilizadas, sobretudo quando são usadas durante pouco tempo, como ir ao supermercado e voltar. Não vou gastar tempo a explicar como se usam: já o fiz por aqui (Covid19: Máscaras Reajustadas) e os telejornais (algo irritados por terem tido de andar a dizer mal das máscaras anteriormente) já nos prestam esse serviço; há vários clips na internet que o explicam, mas, não obstante, deixo aqui, para que veja com o que se parecem, uma foto doméstica dos três principais tipos de máscaras, do género: como devem ser. De cima para baixo:
FFP1 (máscara cirúrgica): aquela que vemos o nosso dentista usar sistematicamente; vemo-la nalguns médicos que encontramos nos hospitais; e em alguns seres vivos normais com quem nos cruzamos na rua e que, habitualmente, estão em período de baixa imunidade, por exemplo doentes oncológicos em tratamento. Chegam para pequenas deslocações a locais como supermercados, farmácias, correios, abrir a porta de casa a quem nos vem entregar uma encomenda.
FFP2 (máscara bico-de-pato; na foto uma de fabrico português, certificada): protege muito bem, evitando 95 % de todas as partículas que podemos respirar, designadamente vírus.
FFP3: protege muito bem, evitando 99 % de todas as partículas que podemos respirar, designadamente vírus.


De cima para baixo: máscara cirúrgica (FFP1); máscara bico-de-pato (FFP2); respirador FFP3.

 © Fotografias de pedro serrano, abril 2020.

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