14 março 2021

DE BOCA ABERTA!


Diga-me, já foi alguma vez ao dentista? É claro que sim e, assim sendo, deverá ter reparado que, sempre na proximidade do médico-dentista, existe, também debruçada sobre si, uma rapariga ou uma senhora, que se vai encarregando de múltiplas, pequenas e indispensáveis tarefas. É ela que enfia na sua bocarra escancarada um tubinho que injecta ar e mantém o interior da sua boca razoavelmente seco para que, face à formação permanente e natural de saliva, o dentista não tenha de trabalhar debaixo de água. É também ela que aspira o sangue que brotou, as esquírolas e poeiras que a broca provoca; é ela, ainda, quem mpunha aquele aparelho que produz uma luz azul que endurece mais rapidamente a massa com que o médico tapou aquela cratera no seu terceiro molar do lado direito. E, permanentemente, é ela que vai chegando ao médico os ferros que ele necessita a seguir, a seringa da anestesia, é ela que mistura os diversos compósitos que serão aplicados dentro da sua boca.

Durante todo este processo, sublinho, você está de boca escancarada, ao léu, sem nenhuma possibilidade de usar máscara nesse momento. Mas eles, o dentista e as assistentes de medicina dentária, têm de trabalhar ali, a dez, quinze ou vinte centímetros da sua cara, e isso implica que estejam expostos à sua respiração, aos líquidos da sua boca, os que escorrem ou os que espirram sobre eles durante a consulta, a maior parte das quais se prolongam além dos vinte minutos que as autoridades de saúde consideram suficientes para que um vírus, como o do Covid19, se transmita entre duas pessoas. Função de alto risco, portanto: pela falta de protecção total de um dos envolvidos (você), pela distância, pelo tempo de exposição, pelo local do corpo onde eles têm de trabalhar. O risco desta gente é enorme, similar ao de um médico otorrinolaringologista, pois trabalham sobre a zona mais perigosa de um corpo humano em termos de transmissão de doenças respiratórias.

E agora diga-me uma outra coisa? Se lho pedissem, em que categoria de profissionais classificaria estes auxiliares de medicina dentária de que tenho vindo a falar? Acha que são profissionais de restauração ou hotelaria? Dos correios? Acha que são profissionais de metalurgia? Talvez agentes de segurança? Não, penso que é claríssimo para todos que são profissionais que prestam cuidados de saúde, certo? Pois, mas olhe que não, o Estado português não os considera como tal, estão impedidos de ser classificados ou olhados legalmente como tal e isso, conclusão imediata e grave, impossibilita-os de serem considerados como candidatos prioritários a vacinação antiCovid19! Fiquei de boca aberta quando o soube! Brada aos céus e, comparado com outras facilidades a que temos assistido, é de tal modo escandaloso que existe uma petição nacional a correr sobre o assunto; se estiver interessado ou chocado com o que lhe contei o endereço é este (carregue com o rato): Assistentes Dentários excluídas da Primeira fase da vacinação

 


 

3 comentários:

  1. É, deveras, impressionante o nível de ignorância dos decisores. Felizmente no país onde vivo (Belgica) a coisa foi muito diferente. As assistentes dentárias e higienistas foram incluídas no grupo de profissionais de saúde e, como tal, nos prioritários para vacinação. Um grande abraço, Paulo

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  2. É, deveras, impressionante o nível de ignorância dos decisores. Felizmente no país onde vivo (Belgica) a coisa foi muito diferente. As assistentes dentárias e higienistas foram incluídas no grupo de profissionais de saúde e, como tal, nos prioritários para vacinação. Um grande abraço, Paulo

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  3. Olá, Paulo, obrigado pelo seu comentário. Um abraço para aí

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