31 março 2021

O PÃO NOSSO

Em tempos pandémicos muita gente desatou a fazer pão em casa, percebe-se isso pelo crescimento das prateleiras de farinhas e fermentos nos supermercados. Embora o pão, por ser alimento cozinhado a altas temperaturas e manipulado com relativo cuidado, não seja um veículo de transmissão de Covid19 com que valha a pena ganhar brancas, aqui fica, para as queridas leitoras, uma receita de pão. É simples e prazeroso de fazer, posso adiantar, e a extensão destas linhas só tem a ver com o detalhe com que transmito a receita, pois, na prática, tudo se reduz a meia-dúzia de gestos e de silêncios encadeados.

O que vai precisar:

a) farinha (trigo ou centeio ou, melhor ainda, as duas em mistura). Há à venda sacos de 5 e 25 Kg, pois um pacote de kg vai-se num fósforo. 

Nota: Se fizer pão uma ou duas vezes por semana, um saco de 5 kg aguenta-se perfeitamente sem mais, desde que o mantenha bem fechado. Se optar por um saco de 25 kg, o melhor é distribuir o pó por vários sacos de plástico e congelar. Mesmo congelada, a farinha mantém-se sempre em pó e pronta a ser usada de imediato. 

b) fermento (fresco ou seco)

c) sal

d) água 

e) taça grande para misturar

f) recipiente que vá ao forno

g) papel vegetal

h) papel de prata

i) forno.

j) Use, por exemplo, uma chávena almoçadeira como medida. 

 

Como fazer (pão grande, de aproximadamente 500 gramas, ver fotos)

1. Meça a farinha para a taça grande: 3 chávenas de farinha de trigo; ou 2 chávenas de farinha de trigo + 1 de farinha de centeio.

2. Faça um buraquinho na farinha e deposite aí uma colher de chá de sal, rasa (seja sempre comedida a usar sal, pois aumenta tremendamente a tensão arterial). Noutro ponto, diferente, escave outro buraquinho e deposite aí o fermento (cada saqueta de fermento seco tem aproximadamente 11 gramas e metade de uma saqueta é o suficiente para fazer 1 pão).

3. Misture bem tudo com uma colher de pau.

4. Encha a chávena almoçadeira com água morna e vá despejando aos poucos sobre a farinha. Vá revolvendo com a colher de pau. A pouco e pouco, o pó vai desaparecendo e obteve uma massa grosseira. Vá acrescentando água até que não reste pó de farinha no fundo da taça. Em princípio gastará 1 chávena e 1/2 de água para o conseguir.

5. Terá agora uma bola pegajosa, de cor acinzentada, no fundo da taça. Cubra com um pano e deixe repousar por 6 a 12 horas. Ao fim deste tempo verá que a massa cresceu e ocupa agora quase toda a taça.

6. Forre o recipiente que vai ao forno (eu uso um de barro) com papel vegetal, de modo a cobrir o fundo e as paredes. Salpique o fundo com farinha em pó, de modo a impedir que a massa adira ao papel no fim de cozedura e o pão fique queimado na base.

7. Espalhe farinha em pó sobre uma superfície lisa (uma bancada) e verta aí a taça com a massa que esteve a fermentar. Use uma espátula de madeira para raspar o que ficou aderente às paredes e ao fundo. Trabalhe um pouco esta massa com as mãos, rolando-a e amassando-a até que ganhe um certo formato de bola achatada. É esta a fase mais satisfatória do processo: o cheiro que se desprende é delicioso e o contacto da massa com as mãos é macio, elástico e funciona como uma massagem. Sentirá também uma sensação de realização e de que se está a aproximar de algo que, em breve, estará concluído a seu favor.

8. Deposite a bola obtida no recipiente de ir ao forno. Deixe repousar cerca de 40 minutos, para que se adapte ao novo local e ganhe o seu formato.

9. Ligue o forno, que deve ser sempre mantido forte ao longo de todo o processo.

10. Tape o recipiente com papel de prata, de modo a evitar que a massa seque demasiado durante a cozedura. Meta no forno.

11. A cozedura dura cerca de meia a três-quartos de hora, terá que ir controlando. Uns minutos antes de a dar como concluída retire o papel de prata para que a superfície do pão adquira uma crosta crocante. Com a experiência aprenderá a lidar melhor com os tempos desta fase: nas primeira vezes poderá usar um palito para apreciar o grau de cozedura (se vier massa agarrada, a coisa ainda não está pronta). Depois, o processo tornar-se-á quase instintivo e tenho uma amiga que consegue avaliar se a cozedura está no ponto pelo tipo de cheiro que lhe chega da cozinha. Pessoalmente, ainda não atingi esse estado de perfeição.

12. No final, retire o pão do recipiente e ponha-o a arrefecer sobre duas colheres de madeira, por exemplo, de modo a que o ar circule, não haja ressoamentos e o pão fique maravilhosamente pronto a ser comido, sem mesmo ter de usar a faca para derreter a manteiga.

 

Nota: Ao contrário do pão que se compra no supermercado, que fica uma borracha no dia seguinte, este pão aguenta-se firme e fresco vários dias, sem precisar sequer de o torrar.


© Fotografias de pedro serrano, 2021.

 

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