05 abril 2021

KRIS, COM K, COMO EM KRISTOFFERSON

Kris Kristofferson & Bob Dylan (1973).
No final do Outono de 1965, então com 24 anos, Bob Dylan trocaria Nova York por Nashville, no Tennessee, para aí gravar um álbum de misterioso nome (Blonde On Blonde), obra que ficaria para a história da música popular como um dos melhores álbuns de sempre e, porventura, o melhor do autor.

Para além dos dois músicos que já conhecia de trabalhos anteriores e quis levar consigo para Sul (Al Kooper, de Nova York, e o legendário guitarrista Mike Bloomfield, de Chicago), Dylan contou com a colaboração de extraordinários instrumentistas locais, arregimentados pelo seu novíssimo produtor Bob Johnston, um homem que, nos anos seguintes, ser tornaria o produtor e fiel acompanhante, como músico, nas digressões mundiais de Leonard Cohen.

Nos estúdios da Columbia em Nashville, cidade famosa pela impressionante qualidade da sua produção musical, havia um porteiro, um desconhecido já com perto de 30 anos, que, para além dessas funções acumulava as tarefas de esvaziar os cinzeiros e tomar apontamento das necessidades dos músicos em estúdio. O nome desse pau para toda a colher era Kris Kristofferson e já compunha as suas coisitas em pleno anonimato ('Viet Nam Blues', 1965), mas menos de cinco anos depois tornar-se-ia uma estrela de primeira grandeza por várias canções que escreveu como 'Help Me Make It Through the Night' e 'Me and Bobby McGee' (ambas de 1969) e, no ano seguinte, por 'For the Good Times', uma canção que veria mais de 200 versões, entre as quais as de Elvis Presley, Dolly Parton, Dean Martin, Willie Nelson, Johnny Cash ou Norah Jones. Quanto a 'Me and Bobby McGee', com 215 versões, aconteceu uma que suplantou todas as outras e eternizou a canção: a invocada por Janis Joplin, em 1970, rapariga que, por essa altura, confessaria a Leonard Cohen, num elevador do hotel Chelsea, em Nova York, a grande paixão que nutria pelo autor da canção (um bonitão louro de 1,80), mais até do que pelos seus dotes artísticos.

Nos anos que se seguiram, Kris Kristofferson, comporia 56 originais e entraria como actor, por vezes principal, em dezenas de filmes, como Alice Já Não Mora Aqui, de Scorsese (1974) e Pat Garrett & Billy the Kid (este último interpretado por Kristofferson), de Sam Peckinpah (1973), um filme com banda sonora escrita por Bob Dylan. Eu mesmo, num cinema ao ar livre em Angra do Heroímo, na ilha Terceira, vi Convoy, em 1979, onde Kristofferson é um camionista revolucionário e justiceiro.

Embora a versão de 'Me and Bobby McGee' de Joplin seja inultrapassável e inseparável da memória que conservamos da canção, apesar das suas mais de duzentas versões nenhuma consegue chegar ao modo como o próprio Kris Kristofferson interpreta 'For the Good Times', uma canção triste como a tristeza. Das vezes, muitas, que ele a cantou desde que a escreveu, as melhores interpretações são as tardias, já dos anos 80 e 90, como se ele tivesse precisado da curtição dos anos para aprofundar o sentido a cada palavra do poema. Deixo uma versão dessas, tardia, feita ao vivo, e se, chegado ao final, não sentir os olhos carregados de lágrimas então é porque não percebeu nada de nada ou, na melhor das hipóteses, porque ainda não percebeu nada de nada, pois, dizem, a esperança é a última a morrer.  

   

  

Don't look so sad. I know it's over
But life goes on and this world keeps on turning
Let's just be glad we had this time to spend together
There is no need to watch the bridges that we're burning

Lay your head upon my pillow 
Hold your warm and tender body close to mine
Hear the whisper of the raindrops
Blow softly against my window
Make believe you love me one more time
For the good times

I'll get along; you'll find another,
And I'll be here if you should find you ever need me.
Don't say a word about tomorrow or forever,
There'll be time enough for sadness when you leave me.
 

 



 

Sem comentários:

Enviar um comentário