31 agosto 2011

NOCTURNO N.º 2 (em B flat traseiras)

Foto: Pedro Serrano, Cascais 2008.


Soturno,
Prato esgotado em menu,
Nem para o bem passado
Nem para o desmaiado cru,
Espero, sem esperar totais,
Que, entre o tilintar de metais,
Chegue alguém como tu
E me expulse este nocturno
Para um canto mais
Diurno

30 agosto 2011

VIA SACRA


© Fotografia: Pedro Serrano, Kyoto (Japão), 2006.
“Pois sabes que mais?
Até que corroboro”
Vociferou ela
Acendendo um Marlboro
E lançando pela janela,
Com uma sacudidela,
O pau do fósforo
Aos pés do semáforo.
No assento ao lado
Num perfil esquinado
Eu olhava a passadeira
E via passar uma freira
Esvoaçando o tracejado


28 agosto 2011

NO MEU TEMPO

Ainda cheirava a esturricado pela casa quando a filha teve a conversa com ele, apressada, equilibrada na borda do maple onde, noutros dias, a mãe picava o bastidor do bordado.
“O pai não pode continuar aqui sozinho! É a segunda vez em menos de seis meses que isto acontece!”
“Dessa vez não se queimou nada...”, defendeu-se o velho, fugindo à sopa que, na antevéspera, deixara carbonizar.
“Não se queimou nada, mas ficou o bico aceso toda a noite, a Svetlana contou que o metal do fogão estava todo ao rubro! Já imaginou se aquilo se apagava e o gás a sair? Podia ter morrido intoxicado.
Com as mãos entrelaçadas encaixadas entre os joelhos, o senhor Rodrigues olhava o chão, como um menino apanhado em falta.
“E não é só isto, pai, e a porta aberta...? Também já foram duas vezes este ano, já viu o perigo?!”
O senhor Rodrigues suspirou e o suspiro foi o máximo que se permitiu contra as inconfidências da Svetlana. A russa vinha duas manhãs por semana, limpar a casa, passar a roupa; nas manhãs em que vinha lavava-lhe também a louça da véspera... Não tinha a dizer nada dela, pelo contrário, até achava graça ao modo brusco como ela lhe ralhava no seu português de trapos.
Svetlana chegava às oito horas, pontualmente, a chave que usava era a da porta de trás da casa e encontrara a porta aberta, a casa em silêncio, apanhara um susto! Mas não, não acontecera nada, fora apenas o seu hábito de ir dar, à tardinha, uma última vista de olhos às gaiolas dos pássaros penduradas no pátio, a ver se os bichos estavam servidos de água e alpista. E naquele vai e vem de sair e entrar com a intenção de voltar a sair para encher o bebedouro, esquecera-se de bater a porta, rodar a chave; alguma coisa lhe teria chamado a atenção na TV, viera à sala espreitar, nunca mais se lembrara da porta, deitara-se assim.
E agora, sentada na cadeira da mãe, a filha queria que ele fosse morar para um lar, crivava-o de argumentos: menos uma despesa pela dispensa da Svetlana, segurança e cuidados 24 horas por dia, assistência médica sempre que fosse preciso; até nem era longe dali, podia continuar a ir ao mesmo café tomar o pingo e conversar com os outros viúvos. Para além disso, todos os meses ela iria buscá-lo para passar um fim de semana em casa dela, a filha e o neto, ele, todos juntos...
“O pai pense nisso e depois diga alguma coisa. Mas isto assim não pode continuar, não fico sossegada e é um perigo para si...”
O senhor Rodrigues acabou por fazer segundo a vontade da filha, mas sentiu que nunca uma decisão lhe pesara tanto! Durante a última semana que passou na casinha onde vivera os últimos quarenta e cinco anos dormiu ainda pior do que o costume, duas ou três vezes por noite dava consigo a descer do quarto, a percorrer a sala, a cozinha, o quartito que, outrora, fora o da filha e onde agora reinavam o cesto da roupa, a tábua de engomar e a um canto, silenciosa sob a sua redoma envernizada de esquife, a máquina de costura que pertencera à mulher. Nessas deambulações, o senhor Rodrigues ia-se despedindo mentalmente de cada um dos objectos que durante todos aqueles anos se tinham acumulado nas divisões e que faziam da casa aquilo que ela era – a sua casa. Seria capaz de contar a história de cada um deles: aquele cinzeiro de vidro cor de caramelo, por exemplo, tinham-no surripiado por brincadeira na esplanada do hotel da Corunha onde passaram a lua de mel...
“Ó pai, olhe que não vai poder levar muita coisa para o lar...”, avisara-o a filha, que lhe conhecia a costela sentimental, “aquilo mora lá mais gente e se cada um levasse o que lhe apetecesse tornava-se um museu!”
Por isso, todas as noites, como um fantasma que percorre um castelo que já foi seu sem poder tocar em nada, o senhor Rodrigues assombrava a casa, tentando gravar na memória o que ia deixar para trás, obrigando-se a decidir o que levar.
No dia da partida, o senhor Rodrigues amanheceu abatido. Passara a noite a levantar-se para vir ao quarto de banho, o corpo sentia-se nervoso; ainda não eram seis da manhã e já colocara ao fundo das escadas a sua maleta, um saco com sapatos e, em cima da mesa da entrada, como numa exposição, as coisas pessoais que queria mesmo levar: o cinzeiro de vidro; uma jarrinha japonesa que viajara até ali vinda da casa dos seus avós maternos; duas molduras com fotografias; a caneca onde costumava tomar o leite da manhã, e um delicado marcador de livros em prata, com uma cabeça de coruja como punho, que lhe fora oferecido pelos colegas quando se reformara e onde estavam gravadas as datas do seu primeiro e último dia de trabalho na Segurança Social. Svetlana, um bom coração, ficara com os pássaros, as gaiolas e o saco de alpista.
Mas, apesar da contenção, a filha, ainda assim, achou aquilo de mais:
“Ó pai, para que vai precisar de um cinzeiro no lar?! Lá não se pode fumar e, aliás, o pai já não fuma há eternidades! E há lá canecas, pai, eles têm louça própria...
O senhor Rodrigues morreu catorze meses depois de ter dado entrada no lar e, uma semana após o funeral, a filha passou por lá para acertar contas e levantar os pertences do falecido. Consistiam na velha mala com a sua roupa, um saco de supermercado com dois pares de sapatos e umas chinelas. Com grande dignidade, a responsável entregou-lhe também uma pequena peça em prata com uma cabeça de coruja, dizendo:
“Pertencia ao seu falecido pai, tinha-a sempre na mesinha de cabeceira a marcar os livros que andava a ler, coitado... Havia também uma jarrita chinesa, mas partiu-se um dia com as limpezas – nem deu para colar.
Antes de entrar no prédio, a filha do senhor Rodrigues, com um estremecimento leve de repulsa, enfiou no contentor do lixo o saco com os sapatos e os chinelos. Aquilo não iria servir a ninguém que conhecesse e naquele ambiente do lar, cheio de velhos e de mazelas, podia até ter ganho fungos, doenças que se pegassem...
O neto do senhor Rodrigues andava pelos dez anos e estava sentado à mesa da cozinha a barrar uma tosta com Nutella, enquanto lia uma revista de banda-desenhada. Distraidamente, saudou a mãe e o olhar fixou-se na mala que ela trazia na mão:
“Foste buscar as coisas do avô?”
“Fui...”, soprou a mãe como quem acaba de atravessar a terra inteira, deixando-se cair num banco em frente ao filho. Nem imaginas o trânsito que está lá fora! Demorei duas horas a chegar aqui, com esta chuva!
“O que tem na mala?”, quis saber o rapaz.
“Oh!, nada, roupa velha do avô... Vai já tudo para a máquina, vou pôr a correr um programa a 90 graus para desinfectar tudo.”
O rapaz levantara a cara da revista, olhava-a de frente como se fosse a primeira vez que a via.
“E não havia mais nada? Ele morava lá e só tinha roupa?”
A mãe sentiu-se um tanto embaraçada com a pergunta. Respondeu:
“Havia também uns sapatos, mas estavam tão estragados que os deixei ficar...” Depois lembrou-se, meteu a mão no bolso do casaco e pousou a faca de marcar livros em cima da mesa
“E isto...”, acrescentou, empurrando-a na direcção do filho.
“O que é...?”, o rapazito pareceu interessado no objecto, pegou-lhe com delicadeza e examinou-o demoradamente, testando a ponta aguçada da faca na polpa de um dedo, acariciando o espaço entre as orelhas bicudas da coruja, os olhos bojudos.
“É uma faca de cortar papel, antigamente os livros vinham com as páginas coladas; mas também serve para marcar onde se vai a ler, estás a ver? Tem aí esse entalhe que encaixa nas páginas...”
“E estes números?”, quis ele saber.
“Não sei bem...”, respondeu a mãe, “foram os colegas dele que lha deram quando ele se reformou – se calhar é o tempo que trabalhou na Segurança Social...”
“E esta marca?”, inquiriu o rapaz apontando uma pequeníssima depressão no metal.
“A faca é de prata, sabes? Isso é o contraste, é para provar que é prata verdadeira...”
O pormenor pareceu cativar vivamente o neto do senhor Rodrigues. Sopesou a faca, experimentou-a numa das páginas da revista que estava a ler; fechou a revista e voltou a abri-la, como a comprovar que a faca servia mesmo para marcar o sítio onde se ia na leitura. Depois, modificou um pouco o tom de voz, deixou escorregar na direcção da mãe:
“Que lhe vais fazer...?”
A mãe percebeu logo, sorriu:
“Vou-ta dar, se me prometeres que não fazes brincadeiras parvas com ela, tipo marcas em móveis com o bico ou aleijares-te. Queres?”
O rapaz abriu um grande sorriso, acenou com a cabeça:
“Quero muito...”
À noite, já o filho dormia, quando lhe foi apagar o candeeirinho reparou na pequena coruja que espreitava do topo da revista de quadradinhos pousada na mesinha de cabeceira. Abriu a revista com cuidado, virou-a do avesso para que se mantivesse nas páginas em que estava marcada, pegou na faca e deu um beijo leve na testa do rapaz. Depois foi à casa de banho, tirou dum boião uma bola de algodão de desmaquilhagem e o frasquinho de álcool etílico do armário, e levou tudo para a mesa da cozinha.
Sentou-se, cruzou as coxas sob o roupão, acendeu um cigarro, deu uma passa e pousou-o no cinzeiro cor de caramelo que acabara por trazer de casa do pai. Em seguida começou a esfregar a pequena faca de prata com todo o esmero, assistindo satisfeita ao modo como, a pouco e pouco, a coruja se ia revelando muito mais desinfectada e brilhante. 

© Fotografias, Pedro Serrano: (1) Lisboa, 2011; Praia Areia Branca, 2011.

REMAKE




Era loura
Quanto a idade o permitia
Raramente se avarandava
Nas meias-luas antipresbiopia

Sorriso vista alegre prêt-à-porter
Afivelado com cintilações inox
Nas maçãs royal gala do seu rosto
A passerelle engomada do botox
  
E nos amplos gestos dos abraços
Exibia simetricamente nos sovacos
Uma impecável depilação definitiva





© Fotografia: Ana Rodrigues, Sal 2011.

27 agosto 2011

LENGA, TIPO LENGA


Em Alfândega da
Fé:
cinco cantos na Sé
quatro calos no tripé
dois galos, 1 garnizé
duas joaninhas no pé
e uma marcha a ré.
Uma nota com puré?!
Uma neta com cholé?!
Ó Zé:
Uma nata e um café.





© Fotografia: Pedro Serrano, Braga 2010.

26 agosto 2011

PRIMAZIA


Comi
A primazia
Foi em demasia
Provocou-me azia

“Não será azedume?
Uma sensação de lume?”
“Não, não, é mesmo azia,
E estragou-me o dia!”

“E uns sais de frutos,
Uma água mineral?”
“Daquela com picos?
E se me cai mal?!”



© Foto de Pedro Serrano, 2010.

25 agosto 2011

PALAVRAS CRUZADAS


A encantadora menininha da foto (os seus 3 ou 4 anos) rondava, a  distância prudente, o carrinho do bebé, morta por espreitar lá para dentro. Nas minhas costas, a mãe da menininha, invectivava-a a ser correcta:
“Vá, filha, pergunta à senhora se podes espreitar...”
A senhora, que destampava um pequeno Tupperware e se preparava para dar a papa ao bebé, sorria com aquele sorriso orgulhoso e seráfico próprio das mães recentes.
A encantadora menininha não desistia de rondar o carrinho e nas minhas costas a mãe continuava:
“Filha, se queres ver, pergunta à mamã do bebé...”
A mamã do bebé chamou então a encantadora menininha para perto do carrinho e, depois de lhe perguntar o nome, explicou que ia dar a papinha ao bebé.
A encantadora menininha, agora encostada ao carrinho, observava tudo com uns olhos muito atentos e o mais interessante para mim, sentado entre as duas mesas como um porta-aviões de batalha-naval, era ver como a encantadora menininha abria a boca num perfeito círculo de cada vez que a mãe do bebé estendia uma colher de papa na direcção do seu filhote.

© Fotografia de Pedro Serrano, 2011.

24 agosto 2011

ROUBARAM OS MARMELOS À MUSA!


Não sei se algum dos meus ouvintes viu um filme espanhol chamado O Sol do Marmeleiro. Eu, vi-o um dia por completo acaso, já ele começara, naquela cena de a gente ligar a TV, ficar a olhar sentado na borda do sofá de controlo apontado ao ecrã, e, quando nos damos conta, passaram duas horas e nós ali na ponta do sofá com as costas como pedras e o braço do controlo um tanto remoto.
Mas este filme é muito especial, nunca temos bem a certeza se vemos ficção ou documentário, e consiste apenas num pintor que, enquanto lhe remodelam a casa, põe os artefactos de pintura no quintal e desata a pintar um marmeleiro que lá tem. Nada mais do que isto, a musa é o marmeleiro e os efeitos que a luz do sol desencanta nos marmelos.
Este preâmbulo vem ao sabor de, nunca como este ano, a minha compreensão pelos marmelos, o seu maravilhoso amarelo-aveludado de ouro antigo, ter atingido o seu expoente e o referido filme me estar constantemente a vir à cabeça cada vez que, sentado aqui ao computador, virava a cabeça à esquerda e os via, do lado de lá da vidraça, mudando o brilho e a ofuscação consoante as horas do dia.
Aqui, onde moro agora, usam muito como sebe entre terrenos os canaviais ou os marmeleiros e em minha casa tenho uma barreira de marmeleiros a separar o meu quintal da visão do quintal do vizinho a leste. No passado, foi uma sebe quase completa, mas, com o passar dos anos, algumas árvores foram envelhecendo, tornaram-se estéreis e de troncos roídos, ramos quebradiços. Tiveram de ser arrancadas e restaram cinco árvores que, a partir do meio da Primavera, ostentam, quase no cume, umas arredondadas dilatações de um verde-bolorento. Depois, chega o Verão, e o fruto aproxima-se da sua plenitude em finais de Agosto – está pronto a ser colhido, a transformar-se numa natureza-morta num açafate de verga, enquanto aguarda ser transformado em marmelada e geleia ou, tão só, a ser cozido em gomos.
Os meus tinham precisamente atingido esse estado e num deles aparecera, até, uma mancha castanho-banana-madura-de-mais, pelo que na minha mente já tomara forma o pensamento “tenho de os apanhar ainda esta semana”. E se a ideia não se transformara ainda em acto, não fora por preguiça mas, precisamente, para, por mais um instante, apreciar a luz tornando-se divina ao ser reflectida na sua pele aveludada.
Pois não é que houve um filho da puta, mais pragmático e não tão contemplativo, que pensou o mesmo que eu em relação ao facto de terem de ser colhidos antes que apodrecessem?! E, hoje, quando cheguei a casa, alguém desconhecido entrara no quintal e tinha roubado os meus marmelos! Todos, com excepção daqueles em que as manchas castanhas ocupavam mais de metade do fruto, que esses jaziam no chão. Agora, os marmeleiros são simplesmente uma sebe, igual a todas as outras, e o Verão acabou.
Ao menos que os fotografei e, para que se perceba o milagre desta luz, informo que todas as fotos foram colhidas por volta das oito, oito e meia do entardecer.

Nota: O Sol do Marmeleiro (El Sol del Membrillo), de Victor Erice, 1992 (133 minutos).



© Fotografias de Pedro Serrano, fins de Agosto 2011.

20 agosto 2011

A NOÇÃO DA HORA


Canção: "Eu Te Amo", de António Carlos Jobim/Chico Buarque, 
ou de como a canção e o parceiro certo fazem toda a diferença para 
quem é capaz de cantar tão divinamente, mas habitualmente 
se desperdiça em repertórios sem préstimo.

19 agosto 2011

M, como em Anatomia


Apesar da péssima acústica (por muito que tente nunca lá consegui ouvir nada que soasse além de roufenho), da arquitectura absurda que nos obriga, para uma vulgar mijadela, a empurrar portas de quatro metros de altura, e nos empurra por escadarias metálicas de alto teor fracturante; apesar de tudo isto, a Casa da Música trouxe uma vantagem à cidade do Porto: rebentou com a soturnidade da Rotunda da Boavista ao fazer  explodir aquele canto onde dantes ficava a garagem dos eléctricos.
Imperturbavelmente, ao longo de décadas, aquela rotunda foi local tão esverdeadamente granítico como o cemitério vizinho e, apesar das árvores e bancos de jardim, ninguém a frequentava ou atravessava nem que fosse como atalho para atingir uma das várias ruas e avenidas que ali desembocam. Até mesmo para conseguir apreciar o único monumento que abriga, uma ridícula peanha onde, no cimo, uma águia se põe num leão (ou será o inverso?) tornava-se necessário ganhar altitude, recuar umas centenas de metros e observar a escabrosa cena da Praça da República.
No entanto, mesmo há quarenta anos atrás, havia uma altura do ano em que a Rotunda se transfigurava, centenas de pessoas procuravam-na e a maldição parecia evaporar-se como o algodão doce que por lá se vendia durante a segunda quinzena do mês de Junho. As festas são joaninas invadiam a cidade e era ver o inútil chão da Rotunda ocupado por pistas de carrinhos de choque, carrosséis de cestinhas voadoras, mesas de matraquilhos e os clássicos pavilhões de farturas e bifanas.
Numa suave noite de Junho de 1971, eu, acompanhado por um grupo de amigos que já não consigo especificar, percorria, vindo de Norte, os últimos metros de passeio que me separavam do entrar nesse fugaz parque de diversões e, por momentos, expulsar da  consciência a aproximação dos exames finais do primeiro ano da Faculdade e os oito meses sem pegar noutros livros que não fosse a mais pura, a mais luminosa das ficções.
Cara(o) ouvinte, malgrado a piedade que poderá despertar à sua benevolência a circunstância de, passados todos estes anos, já não recordar quem me acompanhava, na minha mente continua nítida como uma fotografia virtual o exacto pedaço de rua em que me encontrava nessa noite e a moda que, como um jackpot, tinha estourado no vestuário desse Verão. Vindo do lado do hospital militar, eu caminhava próximo de onde, não muitos anos mais tarde, rasgariam uma das portas de entrada do novo Centro Comercial, e uma inovação absoluta, chamada hotpants, transformava a paisagem humana.
Não é complicado fazer perceber o que eram esses hotpants, pois, exactamente quarenta anos depois, precisamente este Verão de 2011, a mesmíssima febre voltou a invadir as ruas como se de novidade total se tratasse. E, de certo ponto de vista, isso é verdade, pois as pernas são diversas. Ah, mas uma coisa vos garanto, tal cena era um total maná para os nossos olhos de outrora que, embora já rasgados por minissaias, nunca tinham posto a vista em tal ousadia, um atrevimento que parecia transformar a mais inócua e repetida das mulheres numa surpreendente e incontornável visão.
Seguia então eu (com os tais dois ou três amigos que não recordo) por esse pedaço de passeio (que recordo como se fosse hoje) quando vi aproximar-se, em sentido oposto, um conjunto de pessoas que, claramente, já se passeara pela féerie da rotunda e regressava a penates. E, nesse conjunto, o meu olhar, de imediato, foi atraído por uma rapariga que, de tanta distinção, se destacava do resto como se as suas acompanhantes, que, sendo franco, também não recordo de todo, se desfocassem, deixando-a apenas a ela e aos seus hotpants amarelos a pairar na noite. Uns atrevidos calções amarelos, justos, cobrindo uns collants negros, a condizer com a souplesse da camisola preta que completava a visão. De espanto em espanto, à medida que se aproximava o momento de os nossos grupos se tangenciarem, reconheci na figura alguém com quem me costumava cruzar nos corredores da faculdade, alguém em quem já reparara, pois eram-me atraentes os seus malares altos, os seus olhos acinzentados e de recorte algo eslavo, o cabelo liso cortado à pajem. Sim, eu já a tinha interiorizado, era uma figura que tornava a ideia de me dirigir ao hospital de S. João simpática, mas estava acostumado a vê-la envergando uma bata branca pingona...
Em plena perturbação cruzámo-nos então nesse pedaço de cimento quadriculado, onde hoje em dia ainda existe a tal porta lateral de acesso ao Centro Comercial Brasília, e, num leve aceno esquivo que não chegou bem a ser um cumprimento, ela deu sinal de me reconhecer também. E foi tudo. Mas vocês sabem como um tipo pode ser ansioso numa idade daquelas que, no meu caso, era a quinzena em que atingiria os 19 anos.
E, entretanto, os exames tiveram lugar, passei de ano pendurado em duas disciplinas e as férias grandes chegaram, tudo o suficiente para me distrair daquela noite na Rotunda mas não o bastante para apagar o traço forte do encontro.
Em Outubro recomeçaram as aulas e eu, depois de ter ouvido tudo o que o meu pai pensava sobre o assunto, prometi ter mais cuidado nesse segundo ano para o qual transitara com cadeiras atrasadas, uma delas a impossível Anatomia. Após consultar demoradamente umas certas pautas afixadas num mostruário fechado a vidro, resolvi mudar de turma nas aulas práticas da disciplina. Quando formalizei o pedido na Secretaria, o funcionário olhou-me, entre o desconfiado e o surpreendido, mas eu mantive-me firme no meu desejo e argumentos.
“Mas olhe que é definitivo”, avisou, “depois não me venha cá pedir para trocar outra vez...”
As aulas práticas tinham lugar num pequeno anfiteatro ao fundo do teatro anatómico e o espaço consistia numa mesa de mármore, onde jazia o cadáver, em volta da qual se dispunham, em socalcos, várias filas de lugares, separadas por um corrimão de metal, onde os alunos se acotovelavam para assistir, em pé, à demonstração do professor.
Ao chegar à primeira aula na minha nova turma, ia levemente atrasado e a sessão já se iniciara. Entrei, tartamudeando uma desculpa ao professor, que interrompera o que dizia para me fuzilar com a atitude, e olhei em volta, à procura de um buraco onde me enfiar entre as cerca de quarenta raparigas que, trajando de branco, enchiam o anfiteatro, e receberam com cochichos e risinhos a minha entrada numa turma formada, alfabeticamente e exclusivamente, por Marias, na qual, apesar da atrapalhação, consegui certificar a contida presença da dona dos saudosos hotpants amarelos.


© Fotografias de Pedro Serrano: (1) e (2) Porto, 2009; (3) Praia Areia Branca, 2011. 

16 agosto 2011

VENDE-SE PÊRAS

Uma vez apareceu aí uma sexta-feira à noitinha, vi-o chegar da janela do escritório, recebi-o ao portão com um:
“Esta semana você atacou cedo!”
Ficou ofendido, retorquiu:
“Ataquei?! Eu nunca o ia atacar, você tem sido meu amigo e mais vale pedir do que andar a roubar.”
Desculpei-me pela infelicidade do termo, justifiquei:
“Como você costuma aparecer ao Sábado...”
“Esta semana deu-me mais jeito assim, amanhã tenho de ir a Torres levantar metadona para duas semanas...”
Sábado, ao princípio da tarde, é o dia em que aparece com mais regularidade; às vezes vem ao Domingo e, mais raramente, às sextas. Mas qualquer seja o dia dou-lhe sempre uma nota de vinte euros.
Já não recordo bem como tudo isto começou, quero dizer, recordo o começo, mas não o tempo que leva este relacionamento: três, quatro anos? Cinco?
Todos os anos aparecem por aqui, a bater à porta, uns tipos com mau aspecto; pedem ajuda para aquelas associações que recuperam e abrigam toxicodependentes, seropositivos, ou ambos. Aceitam mais ou menos de tudo: dinheiro, roupa, sapatos, móveis que já não queremos. Quando é dinheiro que lhes damos fazem questão em passar recibo, um papelito que preenchem com mãos trémulas, arrancam a um bloco com gestos perros.
“O senhor sabe o seu número de contribuinte de cor? Ou quer que deixe em branco?”
Este era um deles, reconhecia-o dessas angariações. Um tipo baixo, mas entroncado, os músculos salientes enfeitados de tatuagens, uma delas representa o nome dele (Mário) em árabe. Nesses primeiros dias, usava o cabelo, oleoso, encaracolado e comprido, atado em rabo de cavalo. Como na maior parte dos viciados em heroína os dentes são fracos e, quando sorri, brilham-lhe umas tocas escuras no meio dos que ainda lhe sobram. Tem 39 anos e uns olhos intensamente verdes, mas é acidentado e cego do direito, o que lhe dá, em permanência, uma certa fixidez ao olhar. Está à espera de ser chamado pelo hospital Curry Cabral, em Lisboa, para um transplante da córnea, mas ainda não apareceu nenhum morto compatível com o seu lugar na lista de espera.
Uma tarde de Sábado bateu-me à porta, abri, quando vi quem era e lhe pedi para esperar, pois ia buscar a carteira, ele avisou:
“Olhe que eu já não estou na associação, não lhe posso passar recibo...”
“Então...?”, tentei perceber.
Então, andava à rasca, ninguém lhe queria dar emprego por aqui, conhecem-no de outros carnavais: droga, más companhias, desacatos.
Contou-me. Morava com a mãe, duas irmãs, cunhados, sobrinhos, tudo na mesma casa minúscula, todos mais ou menos desocupados – os tempos estavam um sufoco. Às vezes arranjava uma ocupação temporária na construção civil, no Verão havia sempre uns dias na apanha da pera, mas agora, a meio do Inverno...
“E mais vale pedir do que andar a roubar, não acha?”
Achei. Dei-lhe vinte euros, sem recibo. Ficou espantado, quase comovido do olho que lhe restava. Esteve aí um mês sem aparecer, depois voltou, algo embaraçado por ter de voltar, mas as coisas continuavam difíceis, tinha esperança no início das obras de recuperação da escola secundária, tinham-lhe prometido emprego... Voltei a dar vinte euros.
Um mês depois, ou assim, atravessava a vila quando ouvi chamar por mim:
“Sr. Pedro, sr. Pedro...”
Olhei em volta, até que apercebi, agitando um boné de basebol para me captar a atenção, o meu amigo, em cima de um andaime. A promessa de trabalho na escola secundária tinha corrido bem, teve emprego regular enquanto aquilo durou. Durante esse período apareceu uma ou outra vez, não bem pelos vinte euros, mais pelo hábito de passar por aí e para contar como iam as coisas com ele. Mas, de qualquer modo, eu metia-lhe sempre os vinte euros na mão, sempre era mais algum, uma tradição.
“Você nem imagina como este dinheiro me ajudou, algumas vezes era com ele que metia em casa o que a gente comia.”
Com o passar do tempo fui-me habituando ao aspecto dele, comecei a encará-lo com naturalidade, dava por mim até algo surpreendido quando alguma convidada de fim de semana, que lia tranquilamente recostada na varanda da porta de entrada, me aparecia, pálida e apreensiva, a dizer:
“Está ali um tipo com imenso mau aspecto à tua procura, diz que te conhece...”
“Ah!”, tranquilizava-a eu, “deve ser o meu tóxico de estimação...”
No final, quando o viam partir, acenando alegremente já do lado de fora do portão, às vezes perguntavam-me:
“Não achas que ele vai gastar o dinheiro todo em droga?”
Não, não achava, ou antes: previamente a não o achar, não me importava com o destino dos vinte euros. Que tenho a ver com o que ele faz ou não faz com o dinheiro que decidi dar-lhe? Não estou no mundo para o endireitar nem tenho vocação para fiscal de comportamentos desviantes. E, depois, nisto da recuperação da heroína sei, ele próprio me vai contando nas nossas conversas de portão, como o processo funciona. Os centros de atendimento destes casos fornecem doses regulares de metadona (um substituto mais leve e menos pernicioso da heroína que permite que a pessoa, eventualmente, se vá desligando da temível droga), mas, antes de cada entrega, fazem um teste para perceber se o cliente tem ou não restos de heroína a circular no corpo. Se tiver, já não fornecem a metadona, o contrato de ajuda quebra-se e só resta ao cliente andar a gemer e a contorcer-se pelas esquinas com a abstinência.
“Não tens medo que ele um dia, uma vez que entra no teu quintal e vê a tua casa de perto, um dia te assalte, te roube tudo?”
Esta é outra das perguntas clássicas que, visitas ou vizinhas assarapantadas, me dirigem, assustadas com o ar de pirata mau do homem.
Não, não tenho; medo nenhum. Acho, por um lado, que o temporário produto do assalto iria matar a, bem mais interessante, galinha dos ovos de vinte euros e, por outro, desconfio que, com o passar do tempo e a constância e tranquilidade deste apoio, o meu tóxico ganhou apreço por mim; ele próprio agradece com frequência a confiança que tenho nele, o  ajudar sem exigir nada. Uma ou outra ocasião, ao aparecer do fundo da rua, me confessou à chegada:
“Vim de boleia com um gajo que conheço, mas mandei-o estacionar o carro na praia, longe daqui. Não quero que saibam onde você mora, não é gente de confiança...”
Ontem, 15 de Agosto, dia da Assumpção de Maria, feriado, preguiçava, pastoreando a satisfação de estar na cama já depois do meio-dia, quando, pela janela entreaberta, ouvi gritar lá de fora:
“Sr. Pedro, sr. Pedro...”
O chamamento repetiu-se, mas demorei a levantar-me e quando espreitei pela janela do quarto vi uma furgoneta velha a desaparecer no fim da rua. Vesti um roupão, desci as escadas e abri a porta. Aos meus pés, no chão encerado da tijoleira da entrada, sem algum bilhete que o identificasse, estava um enorme caixote vermelho, de plástico entrançado, atulhado de peras até às bordas. Peguei nele, a custo, trouxe-o para dentro.
E, agora, porra, que vou eu, que vivo quase sempre sozinho, fazer a 15 ou 20 kg de pera rocha acabada de colher?! Se houver algum ouvinte interessado, por favor contacte-me para este mesmo endereço, pois terei o maior prazer em dividir consigo o presente do meu ex-toxicodependente de estimação.  



© Fotografias: Pedro Serrano, Agosto 2011.

15 agosto 2011

TANGERINA BLUES



I’s four in the morning, 
the end of December...

"Famous Blue Raincoat", Leonard Cohen (1971)

A primeira vez que entrou cá em casa foi num caixote de papelão, transportado pelo Zé João que, no caminho de volta da escola primária, a encontrara na valeta da rua.
Era uma gatita tigrada e parecia perdida no fundo do caixote, trémula de fome e abandono, o ar desgraçado que nem as pulgas poupam. Devia andar pelos seus três ou quatro meses, a idade em que as mães as sacodem das mamas e agora desenrasca-te.
Demos-lhe um banho de banheira, carinhosa água morna com shampô, baptizámo-la Tangerina,  levámo-la ao veterinário para uma geral e, em total naturalidade, tornou-se o quarto elemento da família.
Tangerina era uma gata de temperamento dócil, ao contrário da Mia, sua sucessora, que aprecia companhia mas não contacto físico em demasia, e gostava de se vir enroscar ao nosso lado no sofá. Quando, a meio do Verão de 1999, regressei a casa, com movimentos hesitantes e uma costura no peito ainda fresca por ter sido operado ao coração, recordo que ela me procurava e se aninhava sobre mim, o coração batendo em sincronia contra o meu, naquela posição de esfinge que os gatos adoptam para se ensimesmar. Ali ficávamos os dois, no sofá, eu sentindo amolecer a minha mortalidade à medida que o ronronar dela se ia espaçando e a paz do silêncio tomava conta dos dois.
Dois mil e um foi um ano terrível para todos nós, suponho. Quando o Outono chegou, já estava razoavelmente recuperado da minha doença cardíaca, provocada por um excesso de radioterapia e que não me matara por um triz. Foi por esses dias que Tangerina, uma gata que, tal como eu, apenas começava a meia-idade, apareceu doente, uns sintomas estranhíssimos que a conduziam a crises de agressividade não dirigidas a ninguém em particular ou a ter o que pareciam crises de pânico sem estímulo aparente. O veterinário torceu o nariz, aquilo era a tradução neurológica de uma insuficiência renal, doença comum nos gatos, e nada havia a fazer, iria progredir... Assim foi, o comportamento da gata foi-se agravando a cada semana: deixou de nos reconhecer, acossada por seres invisíveis escondia-se nos cantos, às vezes procurava as poças de sol nos tapetes, no chão de madeira das salas, ali ficava, imóvel, imersa em tristeza, presa do lado de lá de uma névoa qualquer. E quando se arrastava pela casa partia-nos o coração assistir àquilo que fora e aquilo em que se transformara, pois algo se quebrara nela e perdera, de todo, a elasticidade e o pisar leve dos gatos, progredia pelo corredor em movimentos espásticos, assimétricos, como se alguém tivesse feito a maldade de a embebedar.
No fim de Dezembro fui para cima, passar a noite de 24 em casa do meu pai, mensageiro solitário da novidade de que a minha mulher não mais iria descer as escadas para as ceias de Natal do Porto, a nossa separação definitiva concretizara-se havia escassas semanas. Dei-lhe a notícia no quarto de hóspedes que se tornara o meu na sua casa, lembro o gesto em que se deixou sentar pesadamente na cadeira que estava à mão, a antiga cadeira da secretária do meu quarto de adolescente, uma cadeira de braços, madeira clara forrada a rosa-velho.
No dia seguinte, ao princípio da tarde, guiei para Sul, para passar, como era tradição, a noite de Consoada em casa dos, ainda, meus sogros, onde estariam o meu filho e a mãe, inconsciente de que seria mais acertado não aparecer, pois há coisas que perecem em instantes.
Assim se passou, essa noite. Desde que entrei a porta daquela casa, uma casa que se me entranhara na pele como aquelas outras em que vivi feliz, percebi que era um estranho numa terra familiar. Não que alguém me tratasse de modo diferente do habitual, o novo modo de sentir fora decretado por mim próprio mas a velha harmonia tinha-se esgaçado, tal qual a graciosidade no andar da Tangerina. Lavei as mãos no lavabo da entrada, como se já não me fosse lícito galgar as escadas até ao andar de cima.
Tão logo no fim da ceia, ainda antes das onze, sob despedidas de uns “já vais?” constrangidos, dei comigo ao volante de uma noite estrelada, a percorrer a centena de km que me separavam de casa.
Estacionei o carro, olhei a casa imersa na escuridão. Entrei, acendi as luzes de todas as divisões, encolhido no frio de túmulo de um espaço que, fechado há três dias, absorvera e cristalizara o gelo de Dezembro.
“Vou acender a lareira”, comuniquei a mim próprio, enquanto inspecionava o cesto da lenha e verificava que devia ir à garagem buscar umas achas, umas pinhas, uns ramos de pinheiro que crepitassem no fogo e me fizessem companhia até que o sono ou o torpor me levassem à cama.
Ao cruzar a porta da garagem dei com Tangerina tombada no chão de cimento, aninhada num canto entre a lenha e a parede. O corpo parecia maior do que o seu tamanho natural, teso pelo frio da morte, como percebi quando me baixei para a tocar, a frieza e a dureza do chão onde morrera tinham-na contagiado. Voltei para dentro, apaguei as luzes, subi as escadas, deitei-me. O tempo teria de passar.
O dia seguinte amanheceu gelado e cinzento, uma bruma tornava os contornos da casa, da rua, do quintal, indecisos. No jardim da frente, no canteiro em forma de losango, nu, pois as plantas esperavam, imóveis, a Primavera distante para reverdecer, cavei um buraco fundo, alinhado entre os dois troncos de roseira dos vértices mais aguçados do losango. Depois, acocorado, limpei o buraco dos restos esbranquiçados de raízes decepadas, de pedregulhos, de cascas velhas de caracol, esboroei entre os dedos a terra negra acumulada nas bordas até que se tornasse macia. Na garagem, o corpo da gata esperava, menos gelado que na véspera, talvez menos rígido, acomodando-se a caber numa cova.
Deitei-a no fundo do buraco, agachado comecei a empurrar punhados de terra sobre o corpo e, então, sem aviso de que tal estivesse para acontecer, chorei sobre aqueles gestos tudo o que aguardava ser carpido.
Uns dias mais tarde, já em Janeiro, comprei dois ou três sacos de sementes de roseira, de cores loucas que nem sabia existirem: negras, azuis. Depois, pedi ao jardineiro que, logo que fosse conveniente, as semeasse no centro do canteiro em forma de losango, pois é no Inverno, quando nada acontece em volta, que as roseiras se moldam à terra onde florescerão.


© Fotografias: Pedro Serrano, Dezembro 2001.