24 fevereiro 2022

TUDO EM FAMÍLIA

Maria de Belém Roseira, a vespazinha do PS que já se achou apta a ser presidente da república (4 % dos votos nas presidenciais de 2016), foi, há cerca de três semanas, notícia destacada do Público por estar, alegada e umbilicalmente, ligada à génese da trapalhada da concessão de nacionalidade portuguesa ao abrigo de se poder ser, talvez, descendente de um judeu sefardita.

Como já era sabido, e o Público aprofundava, a iniciativa, sem limite temporal para concessão e com critérios mais que frouxos, permite a naturalização portuguesa de praticamente quem quiser, o que tem aberto a porta a uma constelação de negociatas que passam pelo imobiliário de luxo, agências de viagens e sites que aconselham e orientam em como se obter um passaporte português/europeu sem dor e quase sem espera a preços módicos. Uma espécie de Vistos Gold, desta vez baseados na etnia... Um dos beneficiários mais recentes e mais famosos desta iniciativa foi o Sr. Roman Abramovich, oligarca russo e poderoso amigo de Putin, que, há quem o documente, faria o trabalho de rectaguarda da lavagem dos dinheiros obscuros gerados em torno do universo Kremlin, presidente incluído. Como se fosse um motorista do Rendeiro ou o amigo Carlos Santos Silva, mas a uma escala verdadeiramente impressionante.

O campeão nacional da concessão deste tipo de nacionalidade tem sido a Comunidade Israelita do Porto que, até agora, concedeu 90 % delas e está em vias de se tornar podre de rica com as diversificadas áreas que o negócio desbrava.

Estávamos com este nível de conhecimento sobre a matéria, mais a costumeira inacção do Governo em torno do assunto, quando o Público nos vem sobressaltar com a notícia de que terá sido Maria Belém Roseira a levar a iniciativa deste bolo legislativo à Assembleia da República, mas que o articulado da mesma teria sido concebido e redigido por um advogado do Porto (Francisco Almeida Garrett), por coincidência uma das figuras mais proeminentes da Comunidade Israelita do Porto e, ainda por coincidência, sobrinho da tia Maria de Belém. Como o mundo é pequeno e a Rússia tão aqui ao nosso lado.

Vera Jardim, porta-voz de Belém.

Hoje (24 de Fevereiro), ao fundo da página 14, sob a designação de artigo de "Opinião", o Público publica um texto que, em cerimonioso tom de Estado e em quatro pontos resume os impulsos legislativos que levaram à lei de concessão da nacionalidade aos sefarditas, e "fixa a excepcionalidade" de nenhum candidato ter de saber a língua a que se candidata ou sequer residir no país", com o generoso intuito de que nenhum judeu seja impedido de "regressar livremente à pátria e à língua da qual os seus ascendentes foram expulsos, perseguidos, quando não assassinados". Sê bem regressado à pátria Abramovich! Finalmente, o último ponto do texto aflora as "distorções ou ilicitudes" vindas a público em torno do assunto e, gravemente, pugna para que "se defenda a lei e se combata a fraude" (estás a ouvir Van Dunen?). Cereja no bolo: este artigo vem subscrito por quatro personalidades, uma delas Maria de Belém Roseira, como se sabe sem conflito de interesse na coisa... Como é a mais baixinha, Belém assina em último e, por assim dizer, fica ofuscada pela precedência de Vera Jardim (seu porta-voz na tal candidatura a Belém), de Alberto Martins e de Manuel Alegre, apoiantes da senhora à malograda candidatura à Presidência de 2016, em que Marcelo Rebelo de Sousa levou a medalha de ouro, Sampaio da Nóvoa a de prata, e Marisa Matias a de bronze.   

 

12 fevereiro 2022

ANTES O CORREIO DA MANHÃ!

Em tom jubiloso, o Público de ontem (11 Fevereiro) anuncia que, na "oportunidade criada pelas eleições legislativas e o início de um novo ciclo político"(!!) vai renovar o seu painel de colunistas. Aproveita para os apresentar, bem como para enquadrar os motivos da escolha: para começar são as três mulheres ("um ainda maior equilíbrio de género") e duas delas "afrodescendentes" ("promotor da diversidade da sociedade portuguesa contemporânea"). As imagens mostradas enquadram uma loura caucasiana (como diria o Chega) entre duas senhoras de pele mais escura, pois convém relembrar que existem afrodescendentes de outras tonalidades, do branco desmaiado ao negro retinto, passando pelo ruivo.

Chega-nos um travo a foguetório da redacção do jornal e os motivos citados quase pareceram bastar na escolha de um perfil jornalístico que, tanto quanto suponho, é o que espera o leitor médio de um jornal. Pessoalmente, entristece-me o tom da notícia, uma vez que as razões pela quais duas das ditas senhoras são escolhidas e louvadas são precisamente as mesmas pelas quais não se deveria afastar ou distinguir ninguém: sexo e cor de pele. É curto e, se estivesse na pele das novas colaboradoras, não ficaria satisfeito com tal começo e tal publicidade. Olha a novidade, olha que diferente! Cheira a circo e cada dia que passa desde que, em 1990, o Público foi vendido nos quiosques a primeira vez, compreendo melhor aqueles que nos cafés, praças e cantos deste país folheiam o Correio da Manhã. Afinal, ali há as mesmas notícias que se podem encontrar nos outros jornais, umas postas de novidades suculentas, e pouco catecismo. E, em termos de posterior utilidade doméstica, o Correio é bem mais generoso em papel do que o anorético Público, o que permite embrulhar muitos mais molhos de grelos e enrolar muito mais cones de castanhas assadas.

Mas uma notícia positiva deve ser realçada na parangona do Público de que vos falo: Rui Tavares (o rapaz do Livre) deixará de brindar os leitores com as fastidiosas e pormenorizadas crónicas em que explica aos leigos como o mundo poderia ser um lugar muito melhor. Ao menos isso!



Acrescento em 21 de Fevereiro: entretanto tive a oportunidade de ler duas crónicas da nova colunista Carmo Afonso, que se caracterizam por uma insipidez total de tom e por uma repetição insonsa de lugares comuns que não aquecem nem arrefecem.