11 maio 2023

CADA CAVADELA, DUAS MINHOCAS

Temos de agradecer à TAP, e às peripécias com ela relacionada, o upgrade do dito popular "cada cavadela, sua minhoca". Agora, ainda entorpecidas pela luz do sol com que a enxada lhes iluminou a toca, os invertebrados bichos surgem aos dois, por vezes três, por cavadela.

Confesso que a maior surpresa desta semana foi ver aparecer novamente à luz do dia Constança Urbano de Sousa, que eu, como penso que a distraída maioria dos portugueses, pensava politicamente defunta e sob terra firme! Qual quê! A outrora especialista em abraçar corporações inteiras de bombeiros migrou de mansinho para as secretas e é agora expert em intelligence, coisa sobre a qual ninguém apostaria que escondesse uma jazida. Pois, mas o certo é que a mulher é a manda-chuva do Conselho de Fiscalização dos espiões e, nessa superlativa capacidade, não achou nada de especial que um serviço nacional de informações secretas fosse a casa de um cidadão arrestar-lhe o computador. Bafejada pela sorte, a nossa fiscal Mata-Hari, foi ouvida no Parlamento à porta-fechada, e foram os portugueses que ficaram a perder com a confidencialidade, que os inibiu dos momentos de rara beleza que, a crer no que vimos no tempo dos incêndios, devem ter proporcionado as suas explicações. À saída (e pela nesga que nos foi dada oportunidade de vislumbrar nas respostas que deu aos jornalistas), a senhora (jurista de formação) foi incapaz de enunciar qual o artigo da lei em que se baseou a intervenção do SIS neste corriqueiro assunto de polícia. Ficámos, no entanto, a saber que, afinal, aquilo que o ainda alegado Ministro das Infrasestruturas e o Primeiro Ministro consideraram, repetida e publicamente, um execrável roubo não foi afinal roubo nenhum, pois se fosse roubo o SIS não poderia ter metido mão no assunto. Percebeu? Eu também não.

Outra das felicidades revelada esta semana foi a de que o presidente da Comissão Parlamentar à TAP (Seguro Sanches, do PS) sentiu a honra violada pelas insinuações da Oposição de que quereria diminuir o tempo que cada deputado dispõe para, nas audições da Comissão, interrogar os convocados. Como tal, Seguro demitiu-se com fragor e, formoso mas não seguro, abandonou a função de queixo esticado como todas as donzelas ofendidas. Ora quem é que o PS (através de Santos Silva) foi logo buscar para o substituir? Lacerda Sales, o médico traumatologista que os portugueses bem conhecem dos tempos do Covid, quando esteve no Ministério da Saúde com a única função visível de amaciar as arestas mais ásperas da malograda ministra Marta Temido. Especialista em choques e apertos, amplamente rodado em atitudes esfíngicas e em não dizer nada que possa constar, o homem aceitou prontamente a missão, pois o que é isso comparado com os embates do mau-feitio combinado de Temido, Gouveia e Melo e Graça Freitas?