09 agosto 2018

NESTA DATA FELIZ!

Ficámos ontem a saber que o incêndio de Monchique, Silves, e o mais que pode vir, não é como a vela num bolo de aniversário que qualquer de nós pode apagar com um sopro. Acho que ficámos todos tão boquiabertos com o esclarecimento que nos esquecemos de ajudar António Costa a bufar... Após quase uma semana a assistir, em directo, a populações espavoridas que tentam escapar, como rebanho tresmalhado, ao fogo e à GNR; a corporações inteiras de bombeiros, estacionadas à fresca ribeira de arborizadas estradas; a um combate ao fogo e apoio às vítimas onde todos pareciam ser bem-intencionados e confusos voluntários; à Protecção Civil nas mãos da Altice ou a enviar oportunas mensagens de alerta que reencaminhavam a população para uma firma de para-brisas (muito adequado, tendo em conta a ventania que atiça estes incêndios), após todo este desastre, em permanência a trazer-nos à memória as desgraças, humanas e institucionais, dos fogos de 2017, o que diz quem nos governa mal abre a boca? Pois um trabalho notável, uma organização notável, uma estratégia notável, profissionais notáveis, repete à exaustão o Cabrita Sapador – versão tipo desidratada da chorona que tivemos de ouvir no ano passado – enquanto vai mudando, à pressa, a direcção do combate ao fogo do Algarve. E mais disparates e pés pelas mãos se foram escutando até que, após um silêncio que pretendia não interferir com a fase de combate em que se estava, mas também de avisada reflexão, vem o primeiro-ministro apresentar o seu Superior balanço. 

E que diz? Sucesso, isto é um sucesso, Monchique é a excepção que confirma a regra. Nunca as coisas correram tão bem; eles, o Governo, estão – como é costume – todos de parabéns, o país só tem de agradecer e ajudar a soprar as velas. E, perante um país que se afunda no sofá desgostoso com o que ouve, quase envergonhado com o que está a ouvir, continua, pedagógico, a explicar que aqueles bombeiros que se veem, parados, não estão sem saber o que fazer, aguardam, isso sim, sinal para actuar, para avançar, quando os outros já estiverem derretidos... por falta de água ou de fôlego para soprar velas. Estratégia, sim, não acaso, estratégia de uma finura que não está ao alcance de todos compreender... Sim, e também o inestimável valor da vida humana, pois, este ano, nenhum português (ou estrangeiro, que disseram-lhe haver muitos a correr, como tolos, pela serra algarvia) há-de morrer no incêndio, nem que tenha de ser impedido à força, que isto não vai ser como no ano passado