Já deu para perceber que os filhos do
embaixador do Iraque em Portugal gostam de se despir em público. Um deles tê-lo-á
feito por duas vezes numa discoteca de Ponte de Sôr e fê-lo perante os olhos
nacionais na muito pré-arquitectada entrevista concedida à SIC. Foi um gosto
ver rapazinhos de dezassete anos (um deles ainda ostentava nos nós dos dedos as
marcas deixadas pelos murros que deve ter pregado) a papaguear a lição, tão
certeiros nas respostas, tão maduros na análise crítica dos acontecimentos, tão
politicamente correctos, mas deixando escapulir no entredito que consideram
Portugal um lugar de perdição, onde o álcool é demasiado acessível aos
adolescentes, onde menores de 17 anos podem conduzir automóveis diplomáticos,
onde raparigas frequentam discotecas em cidades de província... No Iraque natal
nada daquilo seria permitido!
Sim, rapazes, estamos de acordo,
Portugal é demasiada tentação para o vosso limiar de sensibilidade e uma vez
que as diversas ramificações da imunidade diplomática nada deixarão que vos
suceda, o melhor é porem-se a andar para lá de Bagdad e levarem o papá junto na
mala diplomática. O meu país
agradece.
Quanto ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros português, o costume: pamonhas,
é o termo popular mais simpático para categorizar o comportamento, sobretudo no
começo dos acontecimentos, antes de o ministro se dar conta que o país estava
ao rubro com a ofensa e que o chão onde pousava os pés lhe vacilava. Uma paralisia
sempre justificada pelo “não é nós que compete”, o “não podemos fazer nada
enquanto... etc.” A reboque da agenda do embaixador do Iraque que, entretanto,
publicava comunicados a defender os herdeiros na página da internet da
embaixada, apresentava queixa contra desconhecidos, pedia audiências e
deslocava-se por iniciativa própria ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Bela imagem dá a diplomacia portuguesa, a Portugal e ao mundo, onde a notícia
já corre em tons de indignação.
E em nome, supõe-se, da
‘equidistância’ ou do ‘alto interesse nacional’, o senhor ministro não pôde,
sequer, telefonar a desejar melhoras à família do agredido. Interrogado sobre o assunto na
TV, tentou primeiro iludir a pergunta, respondendo ao lado. Mas parvo é coisa
que Rodrigo Guedes de Carvalho não é e logo encostou o suspeito às boxes, insistindo
na pergunta. E o importante governante lá teve de confessar que nada tinha
feito, mas que se inteira do estado do doente a todo o momento, queremos até
crer que o terá em permanência no pensamento, tal como a embaixada do Iraque,
onde se reza pelo Ruben diariamente.
Mas, afinal, o que tem assim o Iraque de tão especial
para o superior e enevoado interesse nacional? Petróleo? Ora, pelo amor de
Allah, fornecedores não faltam, e vocês já viram o preço a que desceu o barril