Ficámos ontem a saber que o incêndio de Monchique,
Silves, e o mais que pode vir, não é como a vela num bolo de aniversário que
qualquer de nós pode apagar com um sopro. Acho que ficámos todos tão
boquiabertos com o esclarecimento que nos esquecemos de ajudar António Costa a bufar...
Após quase uma semana a assistir, em directo, a populações espavoridas que
tentam escapar, como rebanho tresmalhado, ao fogo e à GNR; a corporações
inteiras de bombeiros, estacionadas à fresca ribeira de arborizadas estradas; a
um combate ao fogo e apoio às vítimas onde todos pareciam ser bem-intencionados
e confusos voluntários; à Protecção Civil nas mãos da Altice ou a enviar
oportunas mensagens de alerta que reencaminhavam a população para uma firma de para-brisas
(muito adequado, tendo em conta a ventania que atiça estes incêndios), após
todo este desastre, em permanência a trazer-nos à memória as desgraças, humanas
e institucionais, dos fogos de 2017, o que diz quem nos governa mal abre a boca?
Pois um trabalho notável, uma organização notável, uma estratégia notável,
profissionais notáveis, repete à exaustão o Cabrita Sapador – versão tipo
desidratada da chorona que tivemos de ouvir no ano passado – enquanto vai mudando,
à pressa, a direcção do combate ao fogo do Algarve. E mais disparates e pés
pelas mãos se foram escutando até que, após um silêncio que pretendia não
interferir com a fase de combate em que se estava, mas também de avisada
reflexão, vem o primeiro-ministro apresentar o seu Superior balanço.
E que diz?
Sucesso, isto é um sucesso, Monchique é a excepção que confirma a regra. Nunca
as coisas correram tão bem; eles, o Governo, estão – como é costume – todos de
parabéns, o país só tem de agradecer e ajudar a soprar as velas. E, perante um
país que se afunda no sofá desgostoso com o que ouve, quase envergonhado com o
que está a ouvir, continua, pedagógico, a explicar que aqueles bombeiros que se
veem, parados, não estão sem saber o que fazer, aguardam, isso sim, sinal para
actuar, para avançar, quando os outros já estiverem derretidos... por falta de
água ou de fôlego para soprar velas. Estratégia, sim, não acaso, estratégia de
uma finura que não está ao alcance de todos compreender... Sim, e também o
inestimável valor da vida humana, pois, este ano, nenhum português (ou
estrangeiro, que disseram-lhe haver muitos a correr, como tolos, pela serra
algarvia) há-de morrer no incêndio, nem que tenha de ser impedido à força, que
isto não vai ser como no ano passado
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