04 fevereiro 2010

TANGUEANDO

Sentado sobre os joelhos
Invoco, curandeiro,
As ossadas rituais
Dos despojos que deixaste
Quando te foste.


Um cartão de crédito,
Electronicamente exausto
De validade.
Um CD melancólico, 
Sedentas cortinas
Adeusando a janela de uma casa na
Praia temporariamente fechada.


E, clássico, a óbvia fotografia ovóide,
Polaroid dos idos de urgência,
De onde me olhas tal
Emoldurada estivesses
Num passe-partout.
Inacessível
Por trás de um vidro,
Inamovível
Atrás de um vidro
Inabordável e
Sorrindo, sempre sorrindo,
Na promessa marota que
Continuarás assim, sorrindo,
Pelos templos fora.


Há ainda, inventada por mim,
A página arrancada a bloco de
Um papel intensamente branco 
Dobrado em 2 e, depois, 
Macerado em 4 por 8
Desdobrado, tornado a dobrar, e
Onde devia constar, permanente,
Razão escrita do teu estado ausente.






© Fotografias de Pedro Serrano (de cima para baixo): Viana do Castelo, 2007; Praia da Areia Branca 2007; Tokyo, 2005.

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