Ontem, no itálico prefácio da noite,
Quando fraquejava a luz ao mar e
De seu forro puído o azul-acinzentado,
Boiando afogueado, enfim se revelava,
Pousaste leve na minha tua mão esguia...
Ontem, no itálico prefácio da noite, dizia,
Uma coruja branca voou por sobre a estrada
Calada, macia e, talvez estremunhada
P’los laivos púrpura e ciscos de gaivota
Irradiantes num descartavelmente belo
Arranha-céus de nuvens-em-castelo.
Ontem, no itálico prefácio da noite,
Pousaste com ternura e teus dedos iam
Sobre uma de minhas mãos que conduziam.
“Por onde vamos?”, perguntei
“Tanto me dá, não sei se sei...”
Liguei os faróis, comuniquei “ok”
E, sem decisão de por onde iria,
Fui guiando pela noite que caía.
Fotografias de © Pedro Serrano. De cima para baixo: Kamakura (Japão), 2006; Caldas da Rainha, 2010; Porto, 2008.
Retrato irrepreensível do incontornável desejo de percorrer caminhos misteriosos (e proíbidos), do prazer (e do medo) de ir além do indizível.
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