Na prateleira de cimento e gesso,
apoiada nos poiais do lado exterior da janela aberta, havia uma floreira
rectangular onde crescia, numa profusão não regrada pela meticulosidade de um jardineiro,
um tufo de chorões; um renque daquelas plantas de folha carnuda que se
encontram nos taludes que levam à praia e ajudam a tornar as dunas sedentárias.
Ele estava sentado e olhava pela
janela, pois uma premonição de movimento parecia estremecer as folhas de onde,
alguns momentos depois, começaram a rastejar uns seres que conservavam o
formato das folhas mas as iam substituindo, evoluindo do quente verde vegetal
para um acinzentado de animal de sangue frio. Mas, mesmo antes de atingirem o
peitoril e correrem o risco de o inquietar, eis que aquelas lagartas coriáceas,
uma por uma mas sem excepção, se volviam em pequeninos tigres que ascendiam no
céu azul da manhã, tremeluzindo como fumo, e se volatilizavam num ondulado
fulvo com riscas negras.
“Tens razão”, disse ela com um olho no
visor, “está aqui uma fileira de tigrinhos, todos alinhados! Tão fofos, olha
só: tão pequeninos mas já com bigodes brancos...”
Fotografias: (1) Chorão (Carpobrotus edulis), © Blog Verde; (2) © Nazareth Dávila.
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