02 dezembro 2020

PODE SER QUE TALVEZ...

Uf, que alívio! A empresa responsável pelo produto mais quente (Viagra) e mais gelado do planeta (vacina a menos 70 graus) anunciou que assegurará o transporte da vacina antiCovid19 até aos locais onde esta deva ser administrada. Esse transporte será feito, de acordo com a distância, em avião ou por via terrestre, em camiões próprios, dotados de sensor de temperatura que garantirá, a qualquer momento, que o produto se encontra nas condições térmicas exigidas. 

Uf, que alívio! É que eu já tinha visto, no pequeno ecrã, eclodir um novo tipo de especialista, um sábio em logística da saúde (seja lá o que isso for), a satisfazer-se em voz alta e concluindo que sim, que puxados todos os cordelinhos e feitos todos os telefonemas, Portugal deveria ter "capacidade técnica instalada" para o transporte em frio das vacinas, apontava como parceiros para o projecto as companhias de gás líquido e dava como exemplo de produtos conseguidos no campo do zero absoluto o gelo seco das malas térmicas, onde se transportam tubos de sangue para análise clínica, e, não menos impressionante, os gases gelados usados nas discotecas para fazer fumegar as bebidas! E, afinal, o que é uma vacina senão um shot

Entretanto, no seu sereno comunicado, a directora portuguesa da Pfizer informava ainda que a empresa entregaria as vacinas, assim chegassem, onde lhe fosse dito, estando à espera de instruções nesse sentido do Ministério da Saúde.

Mas ora aí é que está o busílis! Isto não funciona assim, que é que pensam os americanos da Pfizer?! É que há, pelo menos, duas comissões a tratar disso e cada uma delas tem o seu ritmo, as suas idiossincrasias, para além de vários elementos: tudo somado, vai para a vintena de individualidades, isto sem contar o secretário de estado, a ministra e os tradutores de linguagem gestual, que também têm uma palavra a dizer. Tem que se lhe diga, é complexo, demora... São, precisamente, estas complexidades da problemática que explicam que, enquanto, entre outros, a Inglaterra ou a Espanha (belíssimo o plano espanhol, na definição de princípios enquadradores, grupos prioritários, procedimentos) já divulgaram os seus planos a nível interno e internacional, nós, por cá, continuamos a inventar a pólvora, a mastigar os cartuchos, e tudo, com excepção do local onde ficarão armazenadas as vacinas, é muito reservado, preliminar e confidencial. 

Até ao momento (2 de dezembro), a única pessoa a produzir informação pública sobre o plano de vacinação português, o que fez de forma clara, completa e indo ao encontro do que as pessoas desejam saber, foi... Marques Mendes, o advogado e político de Fafe, tendo elevado com a sua prestação televisiva a bonita terra nortenha aos píncaros dos centros de excelência, onde viceja na companhia de Rebordões (berço das máscaras mágicas) e Oliveira do Hospital (concelho que revolucionou a tecnologia dos aeroportos antiCovid19).

Bem, sentemo-nos todos (nós - os  hipotéticos beneficiários da futura vacina - e a Pfizer), pois é bem imaginável que, em pleno Verão, continuemos à espera da transformação dos princípios em prática e, à falta de melhor, entretidos a observar como o turismo se restabelece no mundo vacinado e Portugal se mantém como país de destino não recomendável, dado que a esmagadora maioria dos indígenas ainda milita na situação de vulnerável contagioso. Para consolo de todos, nesse dia virtual, o ministro dos negócios estrangeiros vestirá a capa de super-homem e apresentará, junto dos seus congéneres europeus, um veemente protesto pela falta de proporcionalidade da decisão. 

 

1 comentário:

  1. Só tu para me fazeres rir com um assunto tão sério. A burocracia portuguesa dá-me cabo dos nervos. Nós aqui achamos a inglesa lenta, mas lá tem sido bem mais ágil nesta crise.

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