A pressão da pandemia Covid19 tem sido brutal sobre a Saúde, de uma intensidade nunca antes experimentada, de palavreado leva-o o vento, e a essa violência não escapa ninguém, nem sequer um ministro. Marta Temido (a quem compete manter o leme no meio da tempestade) tem sofrido da má orientação de quem lhe é institucionalmente devedor; tem sido vítima da própria inexperiência e, claro está, dos ataques da comunicação social e das redes sociais. Tem sido usada sem piedade (até por colegas de governo), zurzida sem piedade; a muita das vezes justamente, e o seu ar de quem tudo sabe e tem resposta para tudo, não ajudou, assim como não ajuda ver um responsável sistematicamente agarrado ao telemóvel quando, a seu lado, se enunciam problemas ou se invocam mortos e vulnerabilidades.
Nove meses mais tarde, a maioria dos actores directos no processo Covid (médicos, enfermeiros, auxiliares, dirigentes da saúde) estão exaustos e emocionalmente frágeis, é o preço das experiências-limite, seja uma guerra ou uma doença grave que bateu à porta do nosso corpo. Acontece que a coisa lhe bateu também à porta, a miss pispineta, que em demasiadas ocasiões aparentou comportar-se como se pouco tivesse a ver com isto ou como se os outros não compreendessem nada do que sucedia.
Não foi, igualmente, indiferente o local onde a quebra emocional aconteceu, ao final de um discurso e quase sem aviso, sem aquele nó na garganta que estrangula a voz e antecede as lágrimas. Não, de repente debulhou-se em lágrimas, viam-se escorrer-lhe cara abaixo, não foi aquela cenazita encenada para o programa da manhã da TV, quando a câmara que nos enquadra tem a luz ligado acesa. Aquilo subiu como a maré, ao dar-se conta das pessoas a quem se dirigia. A ministra encontrava-se numa instituição que, ao longo deste longo caminho pandémico, a tem fornecido (a tempo e horas e a qualquer hora, como referiu logo que conseguiu recuperar do choro) de informação técnica, credível e fundamentada; de apoio laboratorial em quantidade avassaladora, às dezenas de milhares de análises por semana, 24 horas por dia, e sem recorrer nunca ao truque do 'teste fácil e milagroso', que depois tem de ser repetido...
Marta Temido, 11 Dezembro 2020. |
Ótimo
ResponderEliminar