12 novembro 2014

BICOS DOS PÉS

Depois do enorme esforço da Saúde para lidar com o inesperado presente do surto de Legionella, onde se destacou a classe, inteligência, sentido de Estado e pertinência da comunicação de informação à população do Dr. Paulo Macedo, tinha de vir alguém borrar a pintura: afinal estamos em Portugal.
E as inconveniências chegaram pela voz do ministro do Ambiente que ontem, ao princípio da tarde, após a Saúde ter anunciado ir fazer um comunicado sobre a eventual origem da contaminação a meio da tarde, se apressou a aparecer na TV antes dos outros, para que o homenzinho e o seu ministério pudessem aparecer na legítima fotografia do Ministro da Saúde, esticadinhos e a espreitar por cima do ombro de quem ombreou com tudo isto na fase das chamas.
E o que veio dizer foi precoce e insuficientemente fundamentado: mais valia que estivesse calado, pois o único, e aliás previsível, efeito que produziu com o seu puxão de orelhas ao “crime ambiental” foi o de desencadear, de imediato, erupções de ameaças com tribunais e pedidos de indemnização por parte de uma população que ainda conta os mortos, receia pelos doentes e a quem não foi dada, pelo tempo que tem de se escoar para que tal aconteça, oportunidade para lamber feridas e serenar pesadelos.
Portugal: casos notificados de Legionella, 2004-2013.
Mais valia que estivesse calado, repito, e que dirigisse as reflexões para dentro da sua casa e para o contributo que poderá ter tido, por via legislativa ou outra, no afrouxar da vigilância sobre um problema que, mais cedo ou mais tarde (basta olhar com atenção os gráficos da notificação da doença e os relatórios sobre a presença da bactéria em entidades várias) iria explodir como explodiu.

Não é de um ambiente deste género que necessitamos!

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