Numa espécie de declaração de conflito de interesses, começo por dizer que o Sr. Rui Tavares, de que soube a existência através dos textos que escreve no Público, tem uma personalidade que categorizo como irritante. Tento ler as crónicas que escreve e raramente consigo chegar ao fim. Para além de chato no tom, dá-me, como se costuma dizer, 'galo' o tom pedagógico e sussurrado de quem sabe o que seria melhor para a minha felicidade, para a felicidade de Portugal, da Europa e do Mundo em geral. Ah, se ao menos a gente seguisse os conselhos dele... E, de quando em quando, se pensa que aconteceu um desaire evitável no Mundo ou na freguesia, de dedinho em riste vem explicar-nos que estava bom de se ver, que ele bem tinha chamado a atenção na crónica da semana não sei quantos...
Depois apareceu o Livre e era mais do mesmo, não foram a lado nenhum, como se viu, nas primeiras tentativas. Tirando a aceitação da Europa, para aquilo já havia por cá o Bloco de Esquerda, fosse na versão mais dona de casa da Catarina ou na mais Família Adams da Mortágua.
E eis que, súbita como uma tempestade de Verão, surge, vinda directamente do nada, uma tal Joacine KM. Ah, é ela que vai ser cabeça de lista do Livre e não o Tavares? Mas porquê? Bem, televisivamente falando, Katar sempre enchia mais o olho do que o outro, que é careca e feioso. Vamos então mudar-nos de sofá e ver o que pensa esta, o que diz, magicava eu nesses dias primevos que antecederam as legislativas de Outubro de 2019.
Mas - após a edição paciente da parte edível - era claro que não dizia nada, coitada, não dava uma prá caixa, é o que se comenta na minha terra em casos semelhantes. Nenhum caminho, nenhuma ideia, a não ser a já muito estafada conversa do costume sobre racismo e ser mulher alternativa, mailas causas fracturantes e outras subvariações da actividade sísmica.
"Mas porque não vai antes o Tavares às urnas", perguntava-me: "sempre se aguentava melhor nas curvas, já tem o estágio feito e tudo". Acontece que - tantas vezes foi agitado sob os meus olhos que fui compreendendo - o truque que podia fazer a diferença nos papelinhos estava precisamente em a candidata ser mulher, preta/negra (riscar o que não interessa), gaga, ex-colonizada, e pronta a acolher no seu abraço todas as demais agitações que quisessem vir pousar no fio da comunicação sem fios das redes...
O resto é história: a mulher lá foi eleita, mas o que rapidamente as câmaras, em directo da Assembleia da República, revelaram foi alguém completamente centrado em si próprio, esfusiante por estar ali, movendo-se na companhia idiossincrática de um secretário que se desmultiplicava para não ser ultrapassado em protagonismo, os dois largando olhares e confundindo o lugar, por onde borboleteavam checkando se estavam a ser convenientemente filmados, com a passadeira vermelha duma noite de ídolos na TVCM. Em cascata, pela rádio e pela televisão, borbulharam entrevistas onde o que mais me ficava na memória eram as palavras excitadas em louvor do andar especial das negras, a alegria e a superioridade dos rabos enormes, das conterrâneas mamas.
Não foi, também, preciso esperar muito mais para que a senhora revelasse em público a sua ignorância política, a sua estreiteza de vistas, o fascínio total por si própria, este último consumado na birra que fez ao ser apertada e em crer que teria sido eleita sozinha. Pobre Rui Tavares, o homem estava mesmo na merda quando os olhos e os ouvidos das câmaras lhe caíram em cima! Era nítido que não esperava uma facada daquelas, uma peixeirada daquelas, nem que o Livre ficasse refém, assim tão de repente, de uma desconhecida. Vai ver-se aflito, coitado, para arrancar a senhora ao protagonismo que adquiriu e no qual já está viciada, para a sacudir da organização, pois a mulher é fogo e vai-se agarrar à causa dela como uma sanguessuga a um bife do lombo. E, antes de voltar a cair no esquecimento, por gosto e inconsciência, irá deixar o partido em péssimo estado.
Mas, como o Sr. Tavares, gosta de pregar nas suas crónicas, estava bom de ver.
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