11 novembro 2022

O ELOGIO DO ARGUIDO

Na sequência da demissão do seu secretário de estado mais querido (Miguel Alves, um paleante de Caminha), António Costa saltou de imediato ao terreiro para dizer o quê? Que ser arguido, estatuto com que Miguel Alves foi premiado, é até uma coisa boa e que os portugueses, ao pensar o contrário, só mostram uma grande iliteracia em matéria de Justiça. Sim, que o primeiro-ministro sabe do que fala e até relembrou aos jornalistas já ter sido ministro da Justiça. 

Mas recordemos o que se passou: este tal de Miguel Alves, até há poucos meses presidente da câmara de Caminha, usou 300.000 euros dos contribuintes para pagar, sem garantia alguma, a entrada para um pavilhão que iria ser construído numas bouças de Caminha, pavilhão que não existe, nunca existiu, nem vai existir: ou seja, 300 mil euros para o tecto. Segundo Alves, o negócio era sólido, assim como o seu parceiro no negócio, firmado com um outro rapaz que se intitula doutorado (phD, como o próprio teve o cuidado de esclarecer) embora não o seja! Este senhor, com quem Miguel Alves andava a cozinhar o arranjinho, é dono de umas 50 firmas mais ou menos fantasmagóricas, sem negócios em curso, algumas falidas, firmas que, tal como o tal pavilhão, não passam do papel. Pelos vistos, com a excepção dos 300.000, tudo se passa no domínio dos unicórnios e da realidade virtual.

Pois sobre tudo isto veio o primeiro ministro dizer-nos que não senhor, que ser arguido pode até ser uma coisa boa, distintiva, pois, entre outras vantagens, permite a uma pessoa não responder quando questionado pelas autoridades, ainda mais fácil do que a chatice de ter de alegar Alzheimer, arranjar atestado médico, etc. Ele sabe-o bem, pois, segundo disse, também já foi arguido.  

Perante esta distinção, é de propor que as pessoas passem a incluir nas habilitações do seu currículo o já ter sido, ser ou estar para ser arguido aos olhos da Justiça. Passaria a ser considerado um parâmetro de valorização positiva e faria com que os candidatos a qualquer emprego ou posição política ombreassem com outras grandes figuras da cena portuguesa que, por vezes com grande esforço pessoal, alcançaram esse honroso estado: José Sócrates, Ricardo Salgado, Manuel Pinho, Joe Berardo, Duarte Lima, Joaquim Couto, Isaltino Morais, Vale e Azevedo, Luís Filipe Vieira, a lista é longa e peço desculpa aos que me esqueci de referir. 

Sem comentários:

Enviar um comentário