07 março 2011

QUEM VIU UM...




Sunset
Another sunset
I know it looks undistinguishable from the last 
but I remember the difference.

Richard Harris ("Slides", 1972)

Os livros de viagens sobre a Índia referem o pôr do sol em Goa como algo  especial, inesquecível. A gente duvida, pensa “pores-do sol, são pores-do-sol, quem viu um viu todos, são todos iguais…" Talvez que o jornalista de viagens que escreveu aquilo estivesse com um martini a mais ou em muito inseparável companhia, tornando aquele momento especial por razões que nada devem à astronomia.
Já tinha estado em Goa anteriormente, boquiaberto ao crepúsculo e ao mar Arábico, mas, desta vez, dei por mim a tentar caracterizar essa diferença, dado que pelas fotografias a gente não vai longe, ficam todas com ar de postal envernizado, significante para quem  envia, pois corresponde a uma emoção entrevista, mas indiferente para quem o recebe, que, distraidamente, dirá:
“Olha que postal tão giro eles mandaram da China…”, e pespega um ananás de plástico magnetizado mesmo sobre o sol ao colá-lo na porta do frigorífico, entre a  receita de Quiabos à Moda do Caxito e a lembrança “levar botas ao sapateiro”.
Fique sabendo que o pôr do sol em Goa é mesmo especial. O sol  cai depressa, como em África, mas deixa-se olhar de frente, sem óculos escuros ou mão em pala, perfeitamente redondo e circunscrito no seu halo, depois alastrando a tudo em volta com uma luz que vai progredindo do laranja feliz para o vermelho de incêndio renascentista e se esvai num amarelo-sépia prateado que a lua cheia nascente, que lhe dá lugar em palco, agradece com um sorriso ainda tímido.
Quem pintou bem isto do pôr-do-sol foi um senhor inglês chamado Richard Harris, actor de cinema e cantor, numa canção chamada “Slides”, que deixo aqui com uma vénia ao U Tube.



© Fotografias de Pedro Serrano, Goa (Índia), 2011.

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