17 março 2013

ENTRETANTO EM SÃO VICENTE


A fotografia não está grande coisa, mas foi a primeira, a testar enquadramento, de outras que me preparava para tirar. Mas, de súbito, ouvi uma voz dizer num inglês macio:
“You can’t take photos here...”
Desenfiei a cara do visor e olhei: na tarde quente, a meio da pista de aterragem, onde parara para tirar a minha fotografia, estava uma segurança do aeroporto, de saia azul, camisa branca e um transmissor-receptor numa das mãos.
“Desculpe”, respondei em português, “não sabia que não se podiam tirar fotografias aqui... Achei graça ao aeroporto chamar-se Cesária Évora e ver a montanha a espreitar por trás...”
Já uma vez, em Moçambique, por estar a retratar uma palmeira, ao lado da qual havia um edifício do Governo, tive de entregar o rolo a um polícia, completamente imbuído da sua missão de autoridade e façanhudo como um ogre. Mas no aeroporto de S. Vicente, a reacção da segurança foi muito diferente:
“Ah, ok!”, mandou-me ela em paz na sua voz macia.
E estava dado o tom geral da cidade do Mindelo onde tudo parece doce e afável, sobretudo para quem chega de um país a desfazer-se, com a agressividade no ar a subir naturalmente de tom e onde, na manhã da Portela, caía do céu uma chuva fria como se lamentasse tudo aquilo.
Aqui o céu está azul, o mar faz-se sentir mesmo que não se vê, uma brisa suave imprime um ondular de leque aos ramos verdes das acácias da praça onde preside um busto em mármore do Camões, e um silêncio de aldeia tomou conta deste Domingo de manhã.
Às três da tarde irei apanhar barco para Santo Antão, uma ilha aqui ao lado e com fama de ser muito bela (se por lá houver net suficiente não deixarei de dar notícias ilustradas). Quem, por falar em beleza, continuam muito belas são todas as mulheres cabo-verdianas, a confirmar o espanto que sempre sofro quando aqui venho. Algumas delas mesmo excessivamente belas, se é que tal pormenor deva ser acrescentado. 

© Fotografias de Pedro Serrano, Mindelo (Cabo Verde), Março 2013.

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