É dos sonhos que tiro esta impressão.
A minha mãe morreu há quase quinze
anos, o meu pai há – hesito – cinco... Durante este tempo todo, sempre que
surgiam nos meus sonhos, apareciam-me como seres mortos, estado que se traduzia
quer por se comportarem estranhamente (levando-me a olhá-los de lado, noutro
patamar que não o da intimidade; sem receio, mas não como carne da minha carne)
quer por aparecerem ostentando avisos físicos de não-vida: permaneciam como seres em silêncio e
incapazes da frase, demasiado brancos ou pulverulentos na cor da pele ou,
ainda, vestidos de um escuro que não lhes era habitual. E eu, que visto de
fora, seria objectivamente caracterizado por estar a dormir, dizia a mim
próprio, à minha consciência sonhante e compassiva:
“Ah, coitadinhos, estão mortos e não o
sabem...”
Tudo isso parece estar em mudança. Não
quero dizer que essas poses de fantasma tenham deixado totalmente de me
assombrar, mas dou comigo a sonhar com eles num recuperado estado de
ressurreição, voltando à vida que, em tempos que já lá vão, vivi com eles e me
devolve o infantil à vontade de entrar, de rompante, por um quarto dentro e
dizer:
“Mãe, já acordei...”
É claro que, nas manhãs reais, só o
silêncio branco dos quartos vazios acolherá o meu entusiasmo, mas, aos meus
sonhos, foi devolvida a possibilidade das antigas pastagens da eternidade.
© Fotografia: Pedro Serrano, Goa, 2013.
Há coisas na vida que são engraçadas. Tu sabes que eu por princípio não acredito nos desígnios divinos e nas forças superiores mas há situações que me fazem pensar se não haverá uma força superior. Uns dirão que é coincidência:
ResponderEliminarQuarta de manha fiz o caminho que faço todos os dias para o trabalho. Chegando a uma certa zona do Eixo Norte-sul, conhecida por ter vários acidentes e de grande dimensão, mantenho todos os dias o mesmo método de condução: com receio das curvas traiçoeiras não ultrapasso nenhum automóvel, mesmo que tenha de me manter atrás de um camião ou de um carro a circular de forma mais lenta. Nesse dia havia um carro mais demorado do lado direito que atrasava o transito e eu lá decidi passar todos pela outra faixa, ultrapassar a velocidade que considero recomendada, e entrar para a faixa da direita mais à frente onde depois sigo para a A5. O carro que provocava o atraso era um Citrôen Xantia da mesma cor que o Avô tinha. Aquela imagem fez-me recordar o antigo dono e relembrar das saudades que tinha dele.
Estava eu embebido nas saudades quando de repente ouço um estrondo na traseira do meu automóvel: era um automóvel que se tinha despistado e que com grande estrondo tinha colidido com o separado central quase capotando. Isto a uns máximo 5 metros da traseira do meu carro.
A minha primeira reacção foi pensar na sorte que tinha acabado de ter já que por acaso tinha passado os automóveis que iam na esquerda. Que sorte poderia ter tido se tivesse ficado para trás? Teria sido abalroado pelo outro carro? Provavelmente.
Este a entrar na A5 a pensar na sorte que tinha acabado de ter quando de repente me lembrei do motivo pelo qual naquele dia tinha tido um comportamento diferente. Foi um Citrôen Xantia igual ao do Avô que me tinha feito mudar a minha rotina e possivelmente evitado um acidente grave. É engraçado como eu, claro descrente nas forças do além, senti naquele momento que não tinha sido por acaso. Alguém me tinha ajudado. Alguém tinha convencido o meu subconsciente a mudar de atitude sabendo o que ocorria a seguir.
Como eu disse: uns dirão que foi coincidência, outros que foi força do além. Eu que acredito mais na primeira do que na segunda, desta vez vou acreditar na segunda. É bom saber que nos protegem mesmo de um local que não sabemos onde fica.
Abraço,
Gil
A mim, no último sonho, o pais diziam que tinhamos de fazer obras e o pai que tinha de plantar palmeiras!
EliminarEu quando vejo um melro (de bico amarelo) gosto de pensar que é pai!
bjs
@ Gil e Susana, Existam ou não, vivem em nós e isso faz com que continuem a existir. Beijos
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