09 abril 2020

ELOGIO DA MÁSCARA

Máscara, ó máscara
Como és difícil de rimar!
Estou aqui cheio de ensaiar
Arranjar-te uma correspondência
Mas és árdua como a evidência
Que a Organização Mundial de Saúde 
Nos tarda tanto, tanto, em anunciar. 
Estou para aqui cheio de tentar!
Fosses, por exemplo, um par de luvas
E punha-te a calçar cinco pares de dedos
Um par por cada um dos segredos
Que (alegadamente) nos andam a ocultar.
Máscara, é que não há maneira,
Se ainda fosses, vá lá, uma viseira
Ficavas por aqui à minha beira
Paulatinamente a embaciar
Não te havia de largar.
Consertava-te o elástico,
Se começasse a afrouxar,
Ou soldava-te o acetato,
Com a ajuda dum agrafo,
Se começasse a derrapar.
Se fosses um respirador, 
Rolariam, de repente,
Um ror de rimas a repicar:
Corredor, andor, amor, vapor...
Agora, máscara?!
Ó eminências da ciência
Então para quando essa evidência
De que todos as devemos afivelar?
Ninguém a poderá apressar?
Ó Guterres, vê se dás aí dois berres
A essa Organização tão Mundial 
Olha que ninguém te vai levar a mal
Afinal, és tu que entra com o cabedal
Que aboleta ao Tedros o colchão,
O motorista, e o subsídio de refeição.
Máscara, máscara, quem tas cantara!
E eu, assim, numa camiseta de sete varas.
É que isto das palavras esdrúxulas... São irrimáveis
Não só são ridículas, como muito pouco amáveis.
Máscara, ó máscara
Chega! Feliz Páscoa. 


Nota razoavelmente técnica: máscaras, respiradores e viseiras integram aquilo que habitualmente se designa por EPI, ou seja: equipamento de protecção individual. No que se refere a máscaras (onde cabem as cirúrgicas - FFP1 -; e os respiradores - FFP2 e FFP3), gostam de nos dizer que não existe evidência científica para o seu uso, isto é que não existem suficientes artigos científicos publicados que fundamentem a vantagem inequívoca do seu uso. Sobre isto da evidência convirá esclarecer que uma ausência de evidência demonstrada não é sinónimo de não haver efeito, ou seja: que as máscaras e respiradores não nos protejem do coronavírus (e outros vírus e bactérias). Deste modo, manda o princípio da precaução em saúde e do bom-senso que, numa situação como a actual, as usemos sempre que nos expomos a terceiros e aumentamos assim o risco de ser infectados, pois na actual fase de transmissão comunitária da epidemia, qualquer pessoa pode ser fonte de contágio, mesmo que ela própria se julgue sã.

PS: Quanto à imagem, é uma fotomontagem que encontrei, como tal, no YoutTube; onde abundam clips com as conferência de imprensa diariamente servidas pelo Ministério da Saúde.

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