Agora, que já se podem usar sem perigo de que nos ralhem, as pessoas, que têm vários tipos de máscaras em casa ou as tencionam comprar brevemente, perguntam-se muitas miudezas práticas, sendo uma das mais prementes: afinal aquilo é reutilizável ou não e, sendo, por quanto tempo posso usar a mesma?
Deixo aqui alguns pensamentos e dicas sobre o assunto, adiantando, desde já, que nada do que se segue é preto e branco, e que o que se segue é enquadrado pela situação concreta que vivemos, em que o óptimo é inimigo do bom.
1. Máscaras cirúrgicas (FFP1) — Estas máscaras não são feitas de um tecido contínuo (como o pano de algodão ou lã), mas sim à base de diversos tipos de fibras, aglomeradas por diferentes processos. A finalidade do seu uso profissional (médicos, enfermeiras, dentistas) é evitar que qualquer bactéria ou vírus, que quem a usa possa ter, passe para o doente ou cliente. Resumindo: protege mais o outro do que quem a usa. Já não é mau! Tendo em consideração a sua arquitectura, a máscara cirúrgica é aplicada sobre a boca e nariz, não deixando espaço livre, entre a cara e o tecido, onde circule o ar. Deste modo, rapidamente vão ficando impregnadas do vapor da respiração de quem as usa e acabam molhadas. Ao ficarem molhadas, perdem parte da sua capacidade de filtro.
Num mundo ideal, estas máscaras devem ser usadas, continuamente, durante 2 horas, e os médicos mudam-nas também quando passam de um doente para outro. Falamos de profissionais e num mundo ideal. Se você, que se quer defender do Covid19, tem destas máscaras em casa e em pequena quantidade, não se pode dar ao luxo de as deitar fora de cada vez que usa uma. Certo? O que poderá então proceder para além do paralisante ralhete "não as use, são uma protecção ilusória", e para que não fique a olhar para o tecto sem faca e sem queijo?
Em tudo o que digo, parto do princípio que você está a cumprir as regras de afastamento e isolamento social e que só sai de casa para ir ao supermercado, à farmácia e aos correios, e que no seu lar TODA a gente está a fazer o mesmo. O quê? Às vezes batem-lhe à porta para entregar uma encomenda? Ok, deve pôr a sua máscara antes de abrir a porta e, se tiver luvas, calce umas antes de pegar seja no que for. Se não as tiver, vá lavar as mãos de imediato, cantando durante 30 segundos "ah suas mãos, onde estão?, onde está o seu carinho?" (na versão Caetano Veloso).
Agora, você chegou do supermercado, andou por fora uma hora e a sua máscara está bastante húmida, além do mais porque você fartou-se de lhe soprar — aquela sostra que estava à sua frente na fila nunca mais se despachava a descarregar do carrinho os 260 rolos de Scotex 4 folhas com sabor a maracujá.
Aplique e tire sempre a máscara, seja ela de que tipo for (máscara ou respirador), usando os elásticos e sem tocar no material de que é feita, pois isso, para além de lhe passar para as mãos eventuais vírus que possam ali ter pousado, vai deteriorar o material e fazer-lhe perder características isolantes. Pegue na máscara retirada por um elástico e pendure-a, usando o elástico e tentando que o resto não toque em nada, num sítio alto (longe de alguém lhe poder mexer) e exposta à luz solar: a face de dentro de uma janela é o ideal, pois o vidro funcionará como lente ao reflectir os raios solares. A sua máscara vai ficar assim exposta ao calor, à secura e à radiação ultravioleta. Todos os vírus detestam esta combinação e o seu número começa de imediato a reduzir-se ao fim de poucas horas nesta estufa natural. Entretanto, se tiver de voltar a sair ou usar máscara, use uma máscara suplente e faça com que a que pendurou na janela (do lado de dentro, embora se houver uma brisa a passar nada a opor, pois arejar é também um bom método de desinfectar), tente que a pendurada esteja por ali 3 ou 4 dias sem lhe mexer. Passado este tempo, estará seca e razoavelmente pronta a ser usada de novo.
Um conselho: não use álcool ou lixívia para desinfectar este tipo de máscaras: vai encharcá-las e dar cabo das propriedades isolantes. Para além do mais, a lixívia é irritante para as vias respiratórias e ao voltar a usá-la vai sentir coisas semelhantes a sintomas respiratórios (exemplo: garganta a arder, tosse, dor no peito ao inspirar) e julgar que é do Covid19. Não é, é apenas ansiedade lixivial, o conhecidíssimo 'síndrome Neoblanc'.
Nunca use máscaras de outra pessoa, por íntima que esta seja e você ponha as mãos no fogo por ela.
2. Máscaras bico de pato (com ou sem válvula) FFP2 — Você tem duas máscaras destas em casa por pessoa? Óptimo. Estas máscaras protegem bastante mais quem as usa do que as máscaras cirúrgicas e graças à sua arquitectura não ficam em contacto directo com a boca, o bico de pato cria um espaço entre a boca e o material de que é feita a máscara. Assim, não se humedecem tanto como as máscaras cirúrgicas e, logo, duram mais em condições de bom uso. Quando são providas de válvula (aquele quadradinho ou círculo de plástico que fica mais ou menos em frente à boca) ainda melhor: o ar que se expira sai pela válvula e o vapor não se acumula tanto no interior da máscara. Quanto ao modo de as alternar, siga o que ficou dito para as máscaras cirúrgicas. Se as suas máscaras bico-de-pato possuem válvula em plástico poderá, como medida suplementar, passar sobre a válvula um pouco de papel de cozinha (ou mesmo Scotex não-usado, se não antipatizar com o sabor a maracujá) embebido em álcool. Deste modo, ajuda a desinfectar a zona por onde entra e sai o ar. Faça tudo isto sem tocar no restante material de que é feita a máscara.
Nunca use máscaras de outra pessoa, por íntima que esta seja e você ponha as mãos no fogo por ela.
3. Finalmente, as máscaras FFP3, de que o exemplo mais conhecido são os respiradores usados pelos pintores de automóveis ou agricultores quando aplicam pesticidas. Estas máscaras têm quase sempre válvula, dão uma protecção excelente (ronda os 99 %) e habitualmente são feitas de um material semelhante ao cartão (ou plástico, ou tecido reforçado e algo rígido) e muitas possuem no contorno uma tira de borracha que permite uma aplicação quase perfeita e estanque sobre o nariz e a boca. Quando se leem as instruções que as acompanham, estas dizem que dão para um uso de 7 a 8 horas, isto é: a jornada de trabalho de um pintor de automóveis ou de um pedreiro ou estucador quando não faz horas extraordinárias. Isto seria no tal mundo ideal, neste em que vivemos (sem máscaras nas lojas; com máscaras em algumas farmácias e na internet a preços exorbitantes) teremos de as reutilizar e, diria, tendo em conta a arquitectura e o material de que são feitas, estas são as que se aguentam melhor e mais tempo.
Nunca use a máscara de outra pessoa, por íntima que esta seja e você ponha as mãos no fogo por ela.
4. Máscaras sociais: O que dizer sobre as tais máscaras sociais (ou comunitárias) que 200 empresas portuguesas já começaram a produzir, ultrapassando todos os limites de velocidade habitualmente aplicados às máquinas de costura? Não se me oferece dizer nada, não abro o meu bico-de-pato sobre o assunto, até que se perceba melhor o que aí vem. Nesta atitude limito-me a seguir o argumento comum dos nossos dirigentes da Saúde: não tenho evidência, nem científica nem outra.
E agora a pergunta em que toda a gente estará a pensar: tenho eu máscaras em casa? E de quais? Tenho. Tenho sempre algumas máscaras cirúrgicas por aí, dão jeito de vez em quando e há longos anos que integro um grupo arriscado. Depois, boquiaberto, fui vendo o que se passava na China (Janeiro de 2020) e pensei para mim mesmo: "esta porra é grave e vai chegar cá não tarda!" Quando vi os pontinhos vermelhos de alguns casos a picarem o mapa da Europa, telefonei para a farmácia onde geralmente vou e perguntei:
"Ó Dr.ª L., a senhora por acaso tem por aí máscaras bico-de-pato?
Ela tinha, bué, quantas precisava? Comprei uma caixita. Passou-se isto a meio do mês de Fevereiro e um pouco mais tarde, nos primeiros dias de Março, passei na secção de adubos e pesticidas da Agriloja, um supermercado tipo 'Casei com um Agricultor'.
"Olha que jeitosos respiradores FFP3 eles aqui têm... E caixas com 100 luvas de látex."
Comprei uma caixa de luvas e outra de respiradores. Ainda por lá ficaram milhares, uma autêntica reserva estratégica.
Estas aquisições, honra lhes seja feita, ainda me permitiram desenrascar posteriormente alguns entes queridos, daqueles que também pensavam que isto não tinha probabilidade de chegar a Portugal! Oh, pra eles, que bem ficam de boquinha tapada!
© Com excepção das 2 imagens referentes a máscaras bico-de-pato, todas as fotografias e design por pedro serrano,
abril 2020.
abril 2020.
Polegar para cima!
ResponderEliminarExcelente!
ResponderEliminarCaros amigos, obrigado pelos comentários e um abraço especial para o Algarve e para a família Pina
ResponderEliminarExcelente, parabens!
ResponderEliminarObrigado.
ResponderEliminarPara a limpeza e desinfecção de máscaras higiênicas reutilizáveis, pode ser seguido qualquer um dos seguintes métodos:
ResponderEliminar1. Lavar e desinfetar as máscaras com detergente normal e água a temperatura entre 60º e 90º (ciclo normal da máquina de lavar).
2. Mergulhe as máscaras em uma diluição de lixívia 1:50 com água morna por 30 minutos. Em seguida, lave com água e sabão e enxágue bem para remover qualquer alvejante restante e deixe secar.
3. Devido às circunstâncias especiais da crise de saúde causada pelo COVID-19 e à urgência de desinfetar produtos com atividade virucida para desinfetar máscaras higiênicas reutilizáveis, foi estabelecido que qualquer um dos produtos virucidas autorizados pelo Ministério da Saúde para PT2 (uso ambiental), que passaram pela norma 14476 de atividade virucida e são registrados para uso pelo público em geral (esses produtos são autorizados no seu modo de uso para superfícies) , pode ser usado para a desinfecção de máscaras higiênicas reutilizáveis). Seu uso será de acordo com as recomendações do fabricante, prestando atenção especial ao uso diluído ou não do produto e aos tempos de contato necessários para a atividade de desinfecção. Depois que as máscaras forem desinfetadas, elas serão lavadas com bastante sabão e água para remover qualquer resíduo químico e deixadas para secar.
Não sei se chamar-lhes mascaras sociais, porque este uso ja foi observado numa empresa do sector têxtil,sendo as máscaras quirúrgicas demasido dispendiosas
Obrigado pelo seu comentário. Quanto às máscaras e à sua lavagem e mergulho em diluições de lixívia: depende do material de que são feitas. Algumas delas (de material cartonado, por exemplo) ficarão completamente destruídas com esse método. Depende.
ResponderEliminar