12 fevereiro 2022

ANTES O CORREIO DA MANHÃ!

Em tom jubiloso, o Público de ontem (11 Fevereiro) anuncia que, na "oportunidade criada pelas eleições legislativas e o início de um novo ciclo político"(!!) vai renovar o seu painel de colunistas. Aproveita para os apresentar, bem como para enquadrar os motivos da escolha: para começar são as três mulheres ("um ainda maior equilíbrio de género") e duas delas "afrodescendentes" ("promotor da diversidade da sociedade portuguesa contemporânea"). As imagens mostradas enquadram uma loura caucasiana (como diria o Chega) entre duas senhoras de pele mais escura, pois convém relembrar que existem afrodescendentes de outras tonalidades, do branco desmaiado ao negro retinto, passando pelo ruivo.

Chega-nos um travo a foguetório da redacção do jornal e os motivos citados quase pareceram bastar na escolha de um perfil jornalístico que, tanto quanto suponho, é o que espera o leitor médio de um jornal. Pessoalmente, entristece-me o tom da notícia, uma vez que as razões pela quais duas das ditas senhoras são escolhidas e louvadas são precisamente as mesmas pelas quais não se deveria afastar ou distinguir ninguém: sexo e cor de pele. É curto e, se estivesse na pele das novas colaboradoras, não ficaria satisfeito com tal começo e tal publicidade. Olha a novidade, olha que diferente! Cheira a circo e cada dia que passa desde que, em 1990, o Público foi vendido nos quiosques a primeira vez, compreendo melhor aqueles que nos cafés, praças e cantos deste país folheiam o Correio da Manhã. Afinal, ali há as mesmas notícias que se podem encontrar nos outros jornais, umas postas de novidades suculentas, e pouco catecismo. E, em termos de posterior utilidade doméstica, o Correio é bem mais generoso em papel do que o anorético Público, o que permite embrulhar muitos mais molhos de grelos e enrolar muito mais cones de castanhas assadas.

Mas uma notícia positiva deve ser realçada na parangona do Público de que vos falo: Rui Tavares (o rapaz do Livre) deixará de brindar os leitores com as fastidiosas e pormenorizadas crónicas em que explica aos leigos como o mundo poderia ser um lugar muito melhor. Ao menos isso!



Acrescento em 21 de Fevereiro: entretanto tive a oportunidade de ler duas crónicas da nova colunista Carmo Afonso, que se caracterizam por uma insipidez total de tom e por uma repetição insonsa de lugares comuns que não aquecem nem arrefecem.

 

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