Mesmo quando era ofertada a mirra.
“Jesus, não podes; olha que chamo o Herodes!”
Acudiu a Virgem desaustinada
Desenhando o gesto de uma sapatada.
“Não quero os Reis Magros, não gosto do Baltazar!”
Vociferou o Deus menino a espernear,
Levantando uma nuvem de palhinhas pelo ar.
Adormece a humanidade ao redor,
Eis que se ergue uma voz no escuro:
Ó Zé, que fizeste ao ouro do Melchior?”
“Sossega, pu-lo debaixo da palha do burro”
Informou, sonolento, o carpinteiro.
“Agora que temos algum dinheiro
Podíamos passar pelo sapateiro.
Estou a precisar de calçado novo
E vi na montra do Judeu um camafeu...”
Mas o patriarca já se desvaneceu.
No escuro, a Virgem, bem desperta,
Cisma em como está entradote
O carpinteiro que, de boca aberta,
Sopra escalas como um serrote
Vai alta a curva da noite,
Quase roseia a madrugada
A estrela-guia pisca, desmaiada.
Esfriado na bruta manjedoura,
Deitado em palha aguçada como lençol
E tendo tábuas duras por colchão,
O Menino acorda, resmungão.
A mãe faz como quem se levanta,
Mas “Deixa-te estar, que vou lá eu...”
Diz S. José, enrolando-se na manta.
Serenada, Maria vai adormecendo
Sarrabiscando intenções vindouras
Umas urgentes, outras duradouras.
De manhã, irá desenriçar o cabelo,
Provar sandálias de pele de camelo...
A fuga do Egipto, a trindade coberta de pó,
O burrito, pela arreata de uma guita,
E uma voz, longínqua, que debita:
“Vá lá, Jesus, tens de fazer o-ó!
Era uma vez, a filha dum Faraó...”
© Fotografia de Pedro Serrano, 2011.
Não há mulher que resista a umas bonitas sandálias!
ResponderEliminar@ Cara Anónima, Eu sei, eu sei. Beijo
ResponderEliminar