No meu quarto do hotel Kosmos, em Leipzig, na parede
fronteira à cama, estavam penduradas duas fotografias emolduradas de um casal,
e que, apesar de serem duas e separadas pelas respectivas molduras, formavam um
todo, de tal modo constituíam um casal. Eram, ou tinham-se tornado, até
fisicamente parecidos.
Pela roupagem, sou levado a supor que a fotografia data do
fim do século XIX, dealbar do séculos XX, e a senhora tinha uma presença
impressionante, aqueles olhos claros e intensos deixavam marca na memória e
dava comigo a olhar para ela de soslaio quando, à noite, regressava ao quarto,
como se estivesse a prestar contas a pessoa que tivesse um qualquer ascendente
familiar sobre mim.
Para além desse mistério, a moldura dela encerrava um outro:
uma mancha de humidade parasitara o quadro, instalara-se, com a fixidez das
presenças definitivas, cristalizada no formato exacto de um copo de pé alto.
Que faria ali e que se teria comemorado antes de eu, num fim de tarde incerto
do século XXI, ter rodado a chave do quarto 31 do Hotel Kosmos?
© Fotografias de Pedro Serrano, Leipzig (Alemanha), Junho 2012.
Já reparaste que, na 1ªfotografia, o copo está ao lado do ombro e, na 2ª, está por cima?!! Mais um mistério...
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