A minha sogra faz anos a 23 de
Dezembro, o que faz com que seja prejudicada nos presentes que lhe são devidos
por anos e Natal, e o seu aniversário se confunda com rabanadas e bolo-rei pois
celebrar em separado duas festividades tão coincidentes não é tarefa fácil,
sobretudo quando alguns membros da família chegada moram a mais de dois mil km.
Mas este 2013 ela festejava oitenta
anos; por isso programou-se um jantar especial para comemorar o facto, e a Nita, o
Patrick e a Dominique vieram mais cedo de Bruxelas, e o Zé João da Alemanha.
Depois do jantar, de mesa e enfeites em
todo semelhantes a uma Consoada, as prendas foram entregues ainda estávamos
todos sentados à mesa e esse pormenor marcou a diferença em relação à noite de
Natal, em que os presentes são distribuídos a partir dos sofás da sala. A Nita apareceu
com um embrulho muito apreciado: um calendário para 2014, sumptuosamente
produzido, cujas folhas eram ilustradas com fotos da família e onde alguns dias
de alguns meses do ano eram assinalados por miniaturas fotográficas dos membros da
família que tinham nascido nesse dia.
A minha sogra estava sentada à
cabeceira da mesa e, para observar de perto o presente, as pessoas foram-se
levantando dos respectivos lugares e formando um cacho por trás dela.
Estava já o calendário desfolhado, e
prestes a ser remetido ao seu envelope imaculadamente cintilante, quando a
minha cunhada Margarida pronunciou:
“Ora mostra outra vez aquela
fotografia em que estamos todas na varanda...”
A fotografia foi repescada e, pelo tamanho
da minha sobrinha Carolina, ao colo da Nita, e da barriga da Margarida, grávida
na época do João Pedro, determinou-se o ano de meados da década de 80 em que o
instantâneo teria sido tirado.
“Olha-me só aqueles penteados!...”,
comentou uma das vítimas.
Mas a Margarida, provavelmente seria
essa a raiz do pensamento que a fez pedir para ver a foto uma segunda vez,
continuava a invocar detalhes originados na imagem, acabando por observar às
cunhadas:
“Já repararam que a tua mãe tinha
nessa altura a idade que nós temos agora...?”
Todos nos ficámos a perscrutar o
retrato com um novo olhar, em que a relatividade dos dias ganhara um relevo até
ali insuspeito.
“E eu tenho hoje a idade que a minha
mãe teria aqui...”, comentou a minha sogra, mirando a D. Lívia que, encravada
entre as netas, nos olhava encadeada pela luz da tarde.
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