01 dezembro 2014

NO ANIVERSÁRIO DA MORTE DO POETA...

Há cerca de dois anos comprei um livro de Colette (Gigi), publicado por uma editora chamada A Sangue Frio. Dentro do livro havia um marcador que publicitava um concurso literário: Ficções e Pessoa. A coisa consistia em mandar para a editora, até ao final de Fevereiro de 2013, um conto em torno de Fernando Pessoa, ficcionando o poeta ou um dos heterónimos.
Na altura, de partida para a Índia, pensei que nunca seria capaz de escrever um conto com Pessoa como personagem, Pessoa, um tipo tão cinzento e tão anónimo, sem acontecimentos de monta, sem altos e baixios... Mas, depois, pus-me a pensar no meu heterónimo preferido, o engenheiro Álvaro de Campos, e reli a sua poesia... E lá estava o Oriente e o Soneto Já Antigo, um falava da Índia, outro de uma inglesa loura... Talvez que por ali... E parti para Goa, carregado com uma ideia ainda muito vaga e um punhado de livros do Pessoa e sobre o Pessoa.
Na Índia escrevi um conto com a dimensão e o enquadramento estabelecido pelo regulamento do concurso, ambientado entre Bombaim e Goa, locais por onde eu próprio me movia nesse Janeiro de 2013.
Uns meses depois, recebi um mail da editora comunicando que o meu conto (Ao Sul das Coisas) tinha sido um dos seleccionados para ser editado sob a forma de um livro de contos. A publicação seria feita durante o ano de 2013, possivelmente no mês de Novembro, para coincidir com o aniversário da morte do poeta. Chegou Novembro e nada... Depois, quando já tinha esquecido praticamente o assunto e se ouviam rumores sobre a falência da editora, eis que recebo mais mails reavivando o assunto, enviando-me de volta o manuscrito do conto e sugerindo as costumeiras revisões de pormenor e propostas de formatação, para que o texto final se encaixasse na tal antologia de contos. Achei mesmo que, finalmente, aquilo ia andar para a frente, tão confiante e activa se mostrava a senhora que comandava a editora.
Ia ser em 2014, a saída do livro, em Novembro, para coincidir com o aniversário da morte do poeta... Entretanto chegaram pedidos de dados para firmar o contrato, a cedência de direitos de autor, a confirmação de autenticidade da obra, etc. E, tal como no ano anterior, nada; nada de nada; os mails (meus e dos outros autores vencedores) ficando sem resposta, silêncio absoluto.
E assim, sinto-me completamente livre para vos deixar por aqui, no próximo post, quase comemorando o Natal, o conto Ao Sul das Coisas, cujo título é inspirado por um dos versos do extraordinário poema de Pessoa Lembro-me Bem do Seu Olhar, também atribuído ao heterónimo Álvaro de Campos.

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