Noi é supervisora nos restaurantes do
hotel, o que não a resguarda de a encontrarmos transportando pesadas bandejas
de comida e bebida para a piscina. Há sempre quem prefira fazer as
refeições por ali, há até aqueles que ordenam as bebidas de dentro de água para
que as suas férias correspondam ao sonho que viram na TV, para que possam tirar
uma fotografia que, mais tarde, desencadeie nos amigos um revirar de olhos e um
suspirado “deve ser paradisíaco!” ao ver o copo da piña colada pousada no
rebordo da piscina.
Noi - o nome significa pequeno em tailandês, é de uma pequena
cidade a escassos quilómetros da fronteira com o Laos e veio para o sul atrás
de um emprego; deixou toda a família no norte, apenas trouxe com ela a pequena
Pitchie que, agora com três anos, era na altura ainda um bebé de mama. Mais
tarde, Pitchie ficou com a avó materna e Noi regressou sozinha ao resort onde
ainda trabalha, mas todos se deram mal com a distância e as saudades e agora a
avó de Pitchie reside também em Samui, toma conta da neta enquanto a mãe
trabalha.
Noi trabalha no hotel nove horas por
dia, às vezes dez horas por dia. Quando comentamos que é muito (o salário por
aqui ronda os 190 euros mensais), ela não concorda, diz até que quando faz o
regime de 10 horas diárias tem direito ao fim de semana de folga. Noi está
explicitamente muito contente com o trabalho que conseguiu arranjar e manter, e
fala dos patrões com respeito e reconhecimento: quando estão de serviço os
empregados comem no hotel e têm acesso até quatro refeições por dia,
pequeno-almoço, almoço, jantar e “como se diz quando se come tarde, à noite?”
Para além da ceia – Noi refere a
distinção seguinte quase em voz sussurrada – pode gozar 6 dias de férias por
ano. Noi, uma rapariga grácil, inteligente e atenta ao mundo à sua volta, tem
consciência de que é uma privilegiada, que teve sorte na vida:
“Na Índia e na China não é nada disto;
até aqui, na Tailândia, isto não acontece em todo o lado. Há quem trabalhe doze
horas e não tenha direito a refeições, a folgas ou a férias.”
A satisfação rasga-lhe os olhos e os
lábios quando, como uma abelha mestra, ciranda incansavelmente entre mesas ou
recebe as pessoas à entrada da Sala Thai,
o requintado restaurante tailandês do hotel onde a reencontramos todas as
noites, juntando as mãos e elevando-as num gesto de prece, uma saudação que,
por estas bandas, significa “curvo-me perante ti”.
Sairá daqui às dez ou onze da noite e, ao chegar a casa, encontrará a pequena Pitchie já a dormir. Tem sorte, pois a menina honra o nome que lhe deram, o qual, na língua tai, é equivalente a “plácida”. Pitchie é alcunha, uma corruptela inglesa de “Peaceful”. É que, bem veem, Noi tem de falar e pensar em inglês a maior parte do seu dia.
Sairá daqui às dez ou onze da noite e, ao chegar a casa, encontrará a pequena Pitchie já a dormir. Tem sorte, pois a menina honra o nome que lhe deram, o qual, na língua tai, é equivalente a “plácida”. Pitchie é alcunha, uma corruptela inglesa de “Peaceful”. É que, bem veem, Noi tem de falar e pensar em inglês a maior parte do seu dia.
© Fotografias de Pedro Serrano, Koh Samui (Tailândia), Dezembro 2015.
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