Classicamente,
a minha casa tem um jardim à frente e um quintal atrás. Nas traseiras, o
pequeno terreno está separado do quintal da vizinha por um muro de tijolo
perfurado, o que permite ver o que se passa de um lado ao outro,
viceversamente.
Do
lado de lá, o terreno é relvado e há um galinheiro ao fundo, mas, como sucedeu
com os asilos psiquiátricos, as portas mantêm-se abertas e os detidos passeiam
em liberdade. Um deles é uma perua branca, elegante, que enche o ar de
vocalizações que mais parecem alguém tomado e afligido por soluços, um piar
entupido. Esta perua é curiosa e tem predileção pela proximidade do muro
perfurado por onde, com um olho de perfil, espreita o que se passa no meu
território, o que inclui as ruidosas deambulações sobre folhas secas do cágado
Megabyte, a gata Nikita e, o que mais a interessa, a Carlota, que a presenteia
com cascas de frutos, pedaços de pão seco e outras iguarias.
Quando
lhe tomba algum destes presentes do céu do muro, a perua solta um curto
entrecho de vocalizações que se destinam a avisar uma ou duas galinhas mais
distraídas de que a comida está servida. Ei-las que se aproximam oscilando
sobre as patas, esbaforidas e tomadas pela gula, mas, embora generosa, a perua
branca aproveitou o tempo que demora a chegada para comer tanto quanto pôde, o
que não foi tudo mas foi o suficiente.
Alheado, do lado sul do muro, o Megabyte continua a sua ronda pelo rodapé do muro: já comeu e o que o interessa agora é encontrar a poça de sol mais esfuziante.
Alheado, do lado sul do muro, o Megabyte continua a sua ronda pelo rodapé do muro: já comeu e o que o interessa agora é encontrar a poça de sol mais esfuziante.
© Fotografia de pedro serrano, julho 2017.
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