Se
cada um dos mais de 31.000 subscritores que, em pouco mais de 3 dias, assinaram
a petição pela destituição do Juiz Desembargador Neto de Moura (doravante
designado JUDE NEMO) contribuísse, numa espécie de crowdfunding benemérito, com 1 cêntimo seria possível pagar ao
homem um bilhete (de apenas ida) até à Arábia Saudita.
Aí,
num caldo cultural mais ao seu jeito, Jude Nemo poderia ganhar honestamente a
vida acocorado numa barraquinha dos arrabaldes de Ryad a vender inutilidades a
quem passasse: pedras para lapidação, miniaturas em plástico dourado do
tribunal da relação do Porto, ferraduras para camelos, magnetos com versículos
dos livros sagrados sobre a mulher adulterada... E quando lhe desse ganas de
proclamar as desconsiderações que lhe correm nas profundezas, poderia sempre
pregar no deserto, por felicidade ali ao lado.
E
assim, por cá, todos reencontraríamos a paz e a serenidade, ainda ontem
perturbada pelas mais recentes choraminguices e alarvidades com que Jude Nemo inundou
a comunicação social através de um intermediário, e que aqui resumo aos mais
distraídos: Nemo diz que as intensas reacções públicas à sua pessoa o tem feito
sentir “triste, usado, indignado e abatido” expressões que, como uma luva,
poderiam ter sido proferidas por uma das vítimas de violência doméstica,
daquelas que ainda consegue falar. Que tal, senhor juiz desembargador, ser
obrigado a descer a escadaria do seu tribunal até à rua, e vestir, nem que seja
por um minuto e apenas ao nível das emoções, a pele de quem é forçado a uma
realidade tão feia?
Pela
voz do ventríloquo, Jude Nemo anuncia também que está a ser “usado no
relançamento do tema da violência doméstica” em Portugal, o que sugere um ego de
boneca insuflável e uma tendência para a generalização um tanto abusiva. Mais à
frente, noutra fiada de pérolas, Nemo manda dizer que as vítimas de violência
doméstica que se sentirem ofendidas com as suas decisões podem sempre recorrer
aos tribunais, exactamente como ele se propõe fazer com quem ofendeu a sua
dignidade pessoal e profissional. É preciso lata para invocar esta equidade, esta igualdade de direitos e
de meios feita por um cidadão que não gastará um tusto em custas judiciais nas
sua cruzada justiceira, que é do meio, e se considera tão irresponsável pelos
seus actos que se dá ao luxo de processar as autoridades que, justificadamente,
o sancionarem quando foi apanhado a conduzir na via pública um automóvel sem
matrícula!
Deixo
para o fim essa coisa da ‘honra’ ofendida de que Jude Nemo fala gemebundamente.
Para ter acesso à honra – informe-se sobre o sucedido nos sistemas
concentracionários da Alemanha dos anos 30/40 e da antiga União Soviética – é
necessário, antes do mais, estar-se vivo e ter uma certa liberdade de
movimentos para dela usufruir e, deste ponto de vista, a ‘honra’ é um luxo a
quem nem todas as vítimas de violência doméstica tiveram tempo de chegar.
Dito
isto, fica um conselho à laia de conclusão: “ponha-se na alheta”, “desampare a
loja”, desembargue a Relação ou, como se diz na cidade que o senhor desfeia:
andor violeta!
Sem comentários:
Enviar um comentário