22 março 2020

COVID19: ENTRETANTO EM MARTE...

1. Marta Temido, ministra da Saúde, anunciou ontem (21 de março) que o pico da epidemia de Covid 19, ou seja: o ponto a partir do qual o número de casos não crescerá mais, será no próximo dia 14 de Abril. Só se esqueceu de dizer a hora! Este tipo de informação, que não pode ser garantida no estado actual de conhecimento, é, para além do mais, contraproducente, pois as pessoas 'lá em casa' podem ser tentadas a afrouxar as medidas que tão corajosa e esforçadamente têm tomado e mantido.
2. O Ministério da Saúde enviou recentemente aos Agrupamentos de Centros de Saúde de todo o país um questionário em torno da preparação para o Covid19, em que uma das perguntas que o respondente tem de marcar com um vêzinho é: há espaço na sua unidade para armazenar o material de protecção individual? Sabendo todos nós da inexistência (ou quantidade ridícula) de material de protecção na maior parte dos serviços de saúde dos cuidados de saúde primários, esta pergunta atinge a categoria do humor macabro.
3. Ontem mesmo, na TV, ouviu-se falar de uma eventual desacelaração da epidemia, uma esperança baseada numa diminuta redução de casos novos em dois dias de observação. É claro que hoje (22 de março) a realidade já demonstrou que não há desacelaração, o que é lógico tendo em linha de conta o que se passa nos nossos vizinhos europeus, a quem o milagre não protege como a nós. Este tipo de ejaculação precoce devia ser evitado, pois, como dito em 1., a) cria falsas esperanças (que depois têm de ser desmentidas e gera desânimo na ressaca); b) pode conduzir ao afrouxar de medidas essenciais à nossa sobrevivência.
4. Igualmente pouco apropriado será ceder à tentação de publicitar previsões de números grossos, do tipo: vamos atingir os 250.000 ou os 500.000 casos no dia tantos de tal do mês Y. Para além de não serem números garantidos, a sua monstruosidade numérica (assim serão vistos 'lá em casa') não tem tradução  prática e causará apenas imenso desalento.   

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