20 novembro 2021

COMO DIRIA BAKUNINE

No mesmíssimo dia em que a Assembleia da República aprovou a lei que criminaliza o enriquecimento ilícito de políticos, Francisca Eugénia Van Dunen, ministra dessa Justiça anunciada e (a seguir a Ana Catarina Mendes) a mais fiel yes-woman de António Costa, divulgou a sua saída do Governo. Procurei o comando, congelei a imagem no ecrã e fui a correr à cozinha buscar a taça das pipocas. É que, tendo em conta a habitual cortina de fumo e as palavras com que Van Dunen nada afirma, fiquei estupefacto do modo assertivo, e por escrito, com que informou o povo.

Mas eis que, de imediato e no mesmo telejornal, mais parvo fico quando percebo que Graça Fonseca, o bacalhau-seco da Cultura, iria fazer o mesmo: vai à vida, parece que está cheia, não nos disseram de quê, mas suponho que de fazer discursos ocos a anunciar verbas de cada vez que alguém denuncia que o sector está na desgraça e os tectos desabam nos velhos conventos. 

No entanto, as revelações sobre saídas do Governo não se ficaram por ali: imagens animadas mostraram Marta Temido, responsável pelo Remendo Nacional de Saúde (ex-SNS), comunicando que também se vai logo que possa, quer voltar a ser simplesmente 'Marta', como se fosse um dos ingénuos pastorinhos da Cova da Iria e não a mulher a que os anos evidenciaram o tique de professora primária autoritária, que se exalta e dá até gritinhos quando as ideias ou a reconhecimento lhe faltam.

Para minha tristeza, que, como Bakunine, simpatizo com a ideia de ficarmos sem governo, pois é plausível que nada de pernicioso suceda ao país, para minha tristeza - como ia dizendo - o episódio Titanic terminou-se com o último dos roedores (Augusto Santos Silva, dos Estrangeiros) a revelar que também almeja a ombreira da porta de saída, uma vez que deseja voltar à vida universitária antes que a reforma e o auto-agendamento para a 3.ª dose do Covid o apanhem, mas que, se a Pátria precisar, se prontifica a aguentar mais uns tempos... A Pátria, com a excepção do citado Bakunine, agradece, comovida.

Claro que houve vários que não disseram nada, ou que ainda não disseram nada, e há mesmo um desses a quem não conviria nada estes género de apartes, pois que arregaça as mangas para tomar conta do PS logo que Costa dê de frosques e, nessa condição de candidato, não pode vir agora dizer que abandona um Governo... Não, Pedro Nuno Santos está é ansioso por tomar conta de uma qualquer próxima governação e, pelo caminho, dar cabo da aviação comercial, dos comboios e do PS, coisa de que o partido parece ainda não se ter apercebido. 

Igualmente mudo se manteve o torpedeiro-mor Eduardo Cabrita, que resistirá enquanto não o correrem, enquanto não o abanarem e lhe disserem "Dudu, olha as gotas: acabou-se, agora tens de ser tu o motorista!". E, mesmo nesse dia terminal, ele irá estremunhado, olhando em todas as direcções, por cima do ombro, atrás das costas, pois vivemos num mundo perigoso, de propósitos conspirativos, onde até a Guarda e a Polícia não obedecem a um ministro como deveria ser. O Cravinho que o diga lá com os truques que lhe pregam os fardados dele...

De repente, bastou um orçamento, um delicado momento, e é a debandada: o que estará a acontecer? Se não fosse a minha fé nas teorias de Bakunine, penso, até, que ficaria preocupado.  

 

Nota para quem possa não conhecer: Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), foi um teórico político, sociólogo, filósofo e revolucionário anarquista. É considerado uma das figuras mais influentes do anarquismo e um dos principais fundadores da tradição social anarquista. 

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