Em primeiro lugar, muito gostaria de saber como tenciona a ministra da saúde operacionalizar este novo critério de contratação de médicos e enfermeiros. Recorrer aos serviços consultivos da Durex, empresa habituada a testar a resistência ao estiramento, ao atrito e à pressão de biliões de preservativos? Incluir na formação especializada dos médicos um estágio obrigatório na fronteira da Polónia com a Bielorússia ou, talvez, no Afeganistão em hora de ponta? Submeter, durante a entrevista de selecção, cada um dos candidatos a um looping de discursos de altos dirigentes da saúde (incluindo ela própria e os inefáveis secretários de estado) para avaliar quantas horas extraordinárias aguentam antes de fugirem porta fora?
Em segundo lugar, numa altura em que o sNS se vê aflito para preencher as vagas que põe a concurso, e repetidamente ficam desertas, talvez não seja a melhor estratégia esta de tratar com duas pedras na mão eventuais candidatos. Será que a senhora já terá ouvido falar da história das moscas, do mel e do vinagre? É que nem só de horas extraordinárias vive o homem!
Em terceiro lugar, como diria Marques Mendes nos seus triunviratos explicativos, o que há que, genericamente, se possa apontar ao desempenho e à falta de resiliência dos profissionais de saúde nos últimos dois anos (para não ir mais além)? Meu Deus, o que alguns deles têm visto e aguentado, ao que se têm adaptado em cada semana de instruções contraditórias, ou diametralmente opostas, por parte da tutela! Para além de injusto e desadequado, o desvario de Marta expõe, sobretudo, a frustração de alguém que está a ser incapaz de liderar a casa que aceitou e jurou gerir com todo o emprenho, zelo e etc.
Entretanto, enquanto Marta desatina, o secretário de estado adjunto da senhora é todo ele mel e rosas nas aparições públicas, debicando sempre o lado positivo das notícias a transmitir, não dizendo nada, defendendo sempre o Governo e acumulando pontos no cartão para uma eventual remexida ministerial. Pelo que se pode ir ajuizando dessas performances, o nosso futuro também não irá longe com o homem... Só nos últimos quinze dias, ouvi-lhe, pelo menos, duas pérolas a merecer o bronze: sobre o atraso na vacinação dos maiores de 80 anos, a justificação nada teria a ver com logística ou deficiente actuação dos serviços de saúde; não, segundo ele a demora (sempre pontual, claro) era mais devida à avançada idade das pessoas a vacinar, que não percebiam bem o que lhe diziam, se atrasavam, coitados, tomáramos nós quando lá chegarmos, disse com o mais piedoso dos sorrisos. A última pérola, ouvi-a ontem, quase em simultâneo com os esganiçamentos de Marta: após enumerar as medidas para fazer face ao recente e violento crescendo da pandemia (lá papagueou as vacinas, os testes, as máscaras, o distanciamento, o lavar das mãos), o homem deu-se conta que o microfone ainda estava virado para ele, pelo que decidiu ser mais específico e juntou em nosso benefício: "para além de outras medidas com uma malha reticular mais fina". Sim, sou da mesma opinião, o melhor é voltar a entregar isto à indústria têxtil, como no tempo das máscaras milagrosas de Rebordões.
Adenda: Foi um momento de rara beleza acrílica e kitsch (fazendo lembrar o famoso quadro 'O Menino da Lágrima') aquele em que Marta Temido disse que não disse o que disse sobre resiliência e pediu (snif) desculpa aos (snif) profissionais de saúde. Mas logo, chispando, foi dizendo que estava genuinamente, profundamente, indignada de ter sido mal interpretada. Pois, ficámos cientes...
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