19 setembro 2011

QUAL É, QUAL É?

Bem que desconfiei, mas, àquela distância, não podia ter a certeza... Qual poderia ser a nacionalidade de um tipo que, hóspede de um hotel de bom nível, enfiado na piscina até ao pescoço, conversava animadamente com o operário que, de cócoras na tijoleira adjacente, picava metodicamente o chão? Parecia até que o tal hóspede, a crer nos gestos que fazia, estava até a dar alguns conselhos avulsos ao trabalhador. O que era certo é que o operário estava a gostar da intromissão e aproveitava o entusiasmo do banhista para parar as marteladas e conceder uma pausa a si próprio sob a torreira implacável das duas da tarde.
Inglês, belga ou holandês? Huumm, não me cheirava; acho que alguém dessas bandas e com o padrão colonial que lhes é conhecido,não se dignaria a tal deferência e, se tivesse sugestões a fazer, optaria por as apresentar na ponta de uma chibata. Americano? Huumm, também não apostaria em tal; esses talvez que até se dirigissem oralmente ao espécime-em-vias-de-desenvolvimento, mas para comunicar a denúncia de um contrato que, assinado em cinco cópias, não estava a ser cumprido nos prazos estabelecidos.
Tive de aguardar, sentado na esplanada sobre a piscina como um sáurio camuflado no meio dos nenúfares, que o dito hóspede tivesse sede, emergisse das águas, se aproximasse, se sentasse na mesa a seguir à minha e encomendasse ao empregado do bar "uma cervejinha bem gelada e, à falta de tremoços, um pratinho de amendoins..."


© Fotografia: Pedro Serrano, Cabo Verde, Setembro 2011. 

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