10 setembro 2011

ENTRETANTO EM CABO VERDE


O avião aterrou suavemente no asfalto com uma pontualidade britânica: meia-noite e meia-hora por aqui, duas e meia da manhã por aí.
Cá fora a noite bafejava um beijo cálido e no céu, de um negro aveludado, a lua espreguiça-se a caminho de cheia. Qual será o meu trevo, e quantas folhas terá, que me faz ter sempre lua-cheia quando por aqui venho?
À minha espera, com o sorriso que se reserva para quem já se conhece, o Manuel da Luz e o Oswaldo, o primeiro entusiasmado com as novidades das recentes eleições presidenciais, o outro, silencioso ao volante como é de seu jeito.
“Acham que podemos parar aí nalgum canto para comprar água?”, pedi.
Oswaldo parou a carrinha à porta de uma churrascaria e o Manuel da Luz desapareceu pela esplanada dentro a comprar-me a água, pois ainda não tenho um tostão que fale este crioulo. Depois pago, sem pressa.
O Manuel da Luz regressou com um saco de plástico onde, gentil e premeditadamente, coabitavam duas garrafas grandes: uma de Água do Luso e outra de Trindade, uma água local.
À despedida, feita à porta do meu apartamento na embaixada de Portugal, o Manuel da Luz sugeriu:
“O Oswaldo passa a buscá-lo na segunda, às oito? Assim tem tempo de tomar o pequeno-almoço no Pão Quente...”
Pareceu-me perfeito e dormi como um santo sobre isso. Agora é um início de tarde abrasador, pelas portas largas do meu quarto vejo o mar coruscar em azul e deixo o convívio de vassuncês para ir ali ao Poeta comer umas linguicinhas e apaladar um queijo de cabra, itens nos quais desatei a remoer mal acordei e percebi onde estava.


© Fotografias de Pedro Serrano, Santiago (Cabo Verde), Setembro 2011.

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