Não há moeda cunhada, nota impressa,
mais bonitas do que as de Cabo Verde. Que empenho em relação à monotonia do
esverdeado dólar norte-americano, à burocrática uniformidade do euro ou ao aspecto
amarrotado e pouco higiénico do kuanza angolano.
Em Cabo Verde é um prazer olhar para a
divisa, há mesmo uma nota (a de 2.000 escudos) que nos dá a conhecer um poema sobre
o martírio do amor, cuidadosamente caligrafado sobre o fundo azul e rosa de uma
flor de cinco pétalas! Quanto às moedas, uma é atravessada por um veleiro
pensativo, noutras se homenageiam plantas locais ou pássaros do arquipélago.
Um das aves cunhadas é o Halcyon
leucocephele, mais conhecido por Passarinha.
Ao invés do que o nome pode fazer suspeitar, a passarinha é mais uma passarona
e, em tamanho, rende cinco ou seis pardais dos nossos.
Aqui, no hotel onde estou, há uma que
reina no pedaço de jardim que tem por sul o mar e por fronteira a piscina, e a
passarinha passa a luz do dia a mergulhar do telhado para o relvado vizinho, a bicar algum
insecto ou verme que percepciona lá do alto com o seu olhar agudo, bichito que
pinça com o bico poderoso, a fazer lembrar o do melro, e engole em pleno voo, mesmo
antes de pousar no intrincado tecido de uma ramagem de palmeira ou se
empoleirar, triunfante e breve, no vértice carnudo de uma folha de cacto.
Mas o que emociona, o que transcende a
biologia e, talvez, a tenha feito merecer a eternidade da prata gravada é a
plumagem azul que reveste o terço inferior do corpo da ave e, quando ela levanta
voo, faz empalidecer de inveja o brilhante anil do céu africano, ofuscado pela aparição de um azul-cobalto desdobrado de fresco no arco-íris de um país das
maravilhas.
© Fotografias: Pedro Serrano, Santiago (Cabo Verde), Setembro 2011.
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