06 março 2012

UM MONÓLOGO DO CARALHO


Martin Schulz (presidente).
Com aquela quedazinha que os alemães têm para dizer aos outros como proceder, um senhor chamado Martin Schulz, um tipo que se entretém a fazer recortes de imprensa, passatempo que acumula com o de presidente do Parlamento Europeu, acusou recentemente Portugal de estar condenado ao “declínio”.
Segundo Schulz, esse declínio derivaria em grande medida da nossa atração por Angola e com o facto de o primeiro-ministro português ter visitado aquele país em busca de investidores para negócios luso-angolanos. Ora para Schulz isto é um crime de lesa-Continente, pois, para ele, não existe solução para Portugal fora do contexto europeu.
Penso que é fácil para todos nós perceber que o homem, para além de se estar a meter onde não foi chamado, nada percebe de Portugal e das suas muito velhas relações com África e, pior ainda, não sonha que a Europa está estafada e que Portugal faz muito bem em olhar para outros pontos do globo, particularmente para aqueles com quem convive há vários séculos como a África e a Ásia.
Quando este senhor alemão regurgitou estas pérolas de aconselhamento estratégico todo o Portugal lhe caiu em cima e quem não o fez explicitamente ficou, pelo menos, com vontade de lhe assentar umas boas laponas, especialmente os 150.000 portugueses que trabalham actualmente em Angola.
Houve, no entanto, uma excepção, alguém que bateu palmas ao que o homem disse, que saiu a terreiro para o defender e voltar a enfiar no micro-ondas da indignação o requentado prato do parecer impossível estarmos a manter relações com um regime tão corrupto e anti-liberdades-e-garantias como o é o do senhor José Eduardo dos Santos. A senhora que se pôs em bicos de pés para gritar ao mundo tudo isto é uma portuguesa e, em última análise, empregada do senhor Martin Schulz, pois é deputada no Parlamento Europeu onde, entre outras funções de destaque, desempenha as de “Membro da Delegação para as Relações com o Iraque”.
Uma nuance que quer o democrático presidente do Parlamento Europeu quer a exaltada dama (que recorda um pouco uma caricatura do Herman José) não parecem ter compreendido é a seguinte: Angola e o povo de Angola estão, na generalidade, gratos ao seu presidente José Eduardo dos Santos. Que chatice! Por muito imperfeito, por muito atrasado que esteja o país e que a corrupção seja um sério problema é sempre sensato comparar o que os angolanos têm hoje com o que tinham há apenas dez anos atrás. E o seu maior bem durante 30 anos foi uma guerra civil, com tudo o que isso acarreta: isolamento, morte, instabilidade permanente, destruição de cerca de 70 % das estruturas de saúde e de educação, fome, doença... Resumindo: a incerteza se no dia seguinte iam acordar vivos ou, quando muito, a solitária perspectiva de ignorar que nova desgraça se ia juntar às anteriores! Alguém imagina o que isto é?
“Eu agora só quero é tentar viver os anos que ainda tenho pela frente ...”, disse-me um dia uma angolana, num desabafo que traduz bastante fielmente o que se sente naquele país. Hoje o país está em paz, pode voltar-se a dar conta que o sol nasce, despedir-se com uma boa certeza de um “até amanhã”.
Ana Gomes (deputada parlamento europeu).
Há ainda dez anos Angola estava em guerra. Dez anos depois está a reconstruir-se, a crescer para além do que os portugueses lá deixaram, a modificar-se todos os dias, a dar trabalho aos angolanos e aos estrangeiros que procuram o país.
Por todos este bens, os angolanos estão gratos ao seu Zédu, uma vez que acabou com a guerra, pôs o país no mapa de África e até do mundo, pois, como se surpreende quem lida com eles, os angolanos são hábeis e duros negociadores quando se trata de negócios estrangeiros. Se tiver sorte, se lhe derem em paz os 30 anos que perdeu em guerra, talvez Angola venha a ser o país que sonha ser aquele povo orgulhoso. Daqui a três décadas José Eduardo dos Santos provavelmente já não será vivo, mas terá garantido um rodapé na História de África e não pelos piores motivos.
Entretanto, li-o hoje no jornal, a nossa efervescente deputada tem em mãos insignes desafios que, inequivocamente, marcarão o futuro da Europa: vai ser actriz e exibir para todo o parlamento europeu o seu papel na peça Monólogos da Vagina. Que não se engasgue em palco são os nossos votos sinceros.  

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