Como todas as mulheres cabo-verdianas,
a Ministra Adjunta e da Saúde é uma mulher bonita, particularmente quando lhe é
permitido relaxar da pose fechada dos momentos oficiais e nos brinda com um
sorriso expressivo e um olhar inteligente e incisivo.
A senhora chama-se Cristina Fontes e
aquele ‘Adjunta’ que antecede o cargo de
‘Ministra da Saúde’ quer dizer que é também adjunta do primeiro ministro do
país. Mas, afinal, que é isso para quem já foi Ministra da Reforma do Estado e
da Defesa ou seja, para quem já mandou em todos os homens armados do
arquipélago?
No dia 17 de Dezembro, enquanto por
aqui se batia o dente, a cidade da Praia amanheceu azul e quente e, ainda não
batiam as dez da manhã, já eu suava em bica, estrangulado pela gravata de
cerimónia que o encerramento do Curso, de que era um dos responsáveis,
aconselhava e a presença de duas ministras e meia (duas da Saúde, mais o tal
acrescento de ‘Adjunta’) tornava obrigatório.
Durante a tarde soubemos da morte de
Cesária Évora e pensei até que o jantar para que a Ministra, gentilmente, nos
tinha convidado poderia ser cancelado perante tal desgosto nacional e a
perspectiva de três dias de luto.
Quando a Ministra chegou ao hotel onde
decorreria o jantar, meia-dúzia de portugueses comentavam o emblemático e
recém-cometido gesto do Futebol Club do Porto: no início do jogo dessa noite fizera-se
um minuto de silêncio no Estádio do
Dragão e as dezenas de milhares de
pessoas que enchiam o recinto puseram-se de pé e entoaram o “Saudade”.
Juntando-se ao pequeno grupo, a Ministra ouviu a história e vi, pela sua
expressão e pelo pedido de repetição de alguns detalhes, que a homenagem
portuguesa a tinha impressionado.
Mais tarde, já durante o jantar, o
grupo musical que abrilhantava o fundo sonoro, tocou o “Saudade” e a Ministra,
mal eles terminaram a canção, pediu o microfone ao cantor e falou o que lhe ia
na alma. Sobre Cesária, fundamentalmente, e o que ela acabara por ser ao
tornar-se, pela música, embaixatriz de Cabo Verde no mundo. Não deixou, como eu
sabia que aconteceria, de referir o que se tinha passado, escassas horas antes,
num estádio de futebol português e o quanto isso lhe fora grato conhecer. Encaixado entre benfiquistas e sportinguistas,
que os meus comparsas portugueses no jantar eram todos do Sul, senti o
quentinho que subia em todos nós daquela salva de palmas e, adjunto, um
suplemento de brilho pela iniciativa mais bonita daquele dia ter brotado em
gente da cidade onde nasci.
© Fotografias: (1) Expresso das Ilhas, Cabo Verde; (2) Pedro Serrano, sobre convite do Ministério da Saúde de Cabo Verde, 2011.
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