No início dos anos 70, sinais do
degelo Marcelista, apareceram à venda uns posters portugueses que, na época, nos pareciam muito arrojados e livres. Apressei-me a comprar um desses, que
representava um par de namorados a beijar-se despudoradamente sobre a legenda “O
amor é um pássaro verde num campo azul no alto da madrugada”, o tipo ainda de sandálias, mas a moça já sem sapatos. O que raio a frase podia querer dizer foi coisa que nunca preocupou a minha geração.
Bastante piroso, não acham? Pois, eu
achava aquilo o máximo e tinha o meu poster colado numa parede nobre do meu quarto, para grande irritação dos meus pais que, para não parecerem antiquados no
remoque, invocavam que a fita-cola que o segurava ia dar cabo da pintura da
parede...
É da mesma altura um outro cartaz, mostrando um casal num banco de jardim e legendado com uma sentença muito glicosídea
do gajo do Príncipezinho que rezava: “Amar não é olhar um para o outro, é
olhar juntos na mesma direcção...”
Pois ontem, ao dar um voltarete pelo
centro de Leipzig topei com a cena da fotografia acima e o que é que me há-de
saltar, como uma rolha de espumante Murganheira, à tona da consciência? A porra
da frase do Saint-Exupéry sobre a tal mesma direcção.
© Fotografia de cima: Pedro Serrano, Leipzig (Alemanha), Junho 2014.
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