17 outubro 2014

ÉBOLA II: CONNECTING PEOPLE!

Há uns anos atrás, um conhecido meu viajou para um país de África, esquecendo de levar consigo o cartão da vacina contra a febre amarela. Segundo os ditames do Regulamento Sanitário Internacional, para se entrar em alguns países africanos onde o risco desta doença era maior tornava-se obrigatório apresentar a cartolinazinha amarela onde é registada a administração da vacina. Pois na pressa da saída, ele esquecera-se de enfiar o documento ao lado do passaporte e só se deu conta disso no avião.
Como era tipo traquejado em África e viagens para África, ao meter-se no ajuntamento em volta do enfermeiro que carimbava os documentos de entrada no país após relancear o certificado de vacinas, enfiou o documento de entrada dentro das folhas do passaporte, o todo acompanhado por uma viçosa nota verde, em dólares.
Quando chegou a vez dele, tapando o mais que podia com o corpo o balcão onde o homenzinho preto vestido de branco distribuía carimbadelas como quem mata moscas, o meu conhecimento esticou o passaporte na direcção do profissional de saúde que, folheando o passaporte e lançando um olhar indiferente ao dono, lho devolveu aliviado de peso, com o documento a apresentar ao controlo de entrada devidamente legalizado por carimbo a óleo. A partir desse momento, o cidadão estrangeiro estava oficialmente vacinado contra a febre amarela.
Vem isto a propósito da decisão, tomada hoje, pelos ministros da saúde europeus e efusivamente comunicada pelo respectivo Comissário, de Bruxelas passar a exigir controlo de temperatura corporal à saída dos países com epidemia de ébola no activo e, como complemento de gente precavida, realizar uma auditoria ao modo como o processo está a ser conduzido nos países africanos na berlinda.
Inquirida à saída da reunião sobre o motivo que a levara a vetar a proposta de o controlo da temperatura dos viajantes ser, em alternativa, feito à entrada dos países europeus, a ministra da saúde da Finlândia respondeu com segurança:
“Porque é mais eficaz fazê-lo , à saída de África...”
Suave ingenuidade de quem vive num país pacato, rumorejante, ordeiro e que cumpre as regras estabelecidas como se fossem uma segunda pele! , nos países onde grassa a epidemia, até um grau de febre pode ser convenientemente negociado.
E quanto à auditoria, pagava para ver: já imagino o rigor imaculado com que os funcionários africanos irão cumprir, com superior eficiência, os protocolos; pelo menos nos dias em que estiverem por lá aqueles branquelas de camisa azul e gravata às riscas, muito atentos e a escrever afanosamente nos seus tablets. Ah, mas todos sabem que eles vão durar pouco no país, já que as auditorias são finitas, o calor é de ananases, muitas são as varejeiras, e tresandam os corpos que apodrecem fora.     

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