Custou-te assim tanto?
quis ele saber, sentados à mesa de um café.
Invoquei o somatório de anos, uma vez que
é sempre mais singelo o raciocínio do merceeiro
E fiquei-me a olhar lá fora, onde
na meia-distância, um bando de crianças
se entretinha ordeiramente na areia
Crianças de orfanato, crianças amestradas
ou porventura tornadas solenes pelo areal e a vista de água.
Mas a resposta dada não era moeda precisa do que me sucedera e
o assunto restou suspenso em mim como uma bruma balnear.
Talvez o maior custo, talvez,
fosse o ter de me mover até um destino ainda informe
os anos de errância...
Um dia, mas como distingui-lo na distância?, fui capaz de olhar para trás,
e distinguir o longe de onde viera, as ameias ruídas, o caminho
que fora pisado em passos incertos e olhos no horizonte, reverentes
como os das crianças que agora seguem em fila a caminho do mar
© Fotografia: pedro serrano, junho 2021.
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