28 julho 2021

UMA OUTRA PRAIA

 


        Custou-te assim tanto?

          quis ele saber, sentados à mesa de um café.

          Invoquei o somatório de anos, uma vez que

          é sempre mais singelo o raciocínio do merceeiro

          E fiquei-me a olhar lá fora, onde

          na meia-distância, um bando de crianças

          se entretinha ordeiramente na areia

          Crianças de orfanato, crianças amestradas

          ou porventura tornadas solenes pelo areal e a vista de água.

          Mas a resposta dada não era moeda precisa do que me sucedera e

          o assunto restou suspenso em mim como uma bruma balnear.

          Talvez o maior custo, talvez,

          fosse o ter de me mover até um destino ainda informe

          os anos de errância...

          Um dia, mas como distingui-lo na distância?, fui capaz de olhar para trás,

          e distinguir o longe de onde viera, as ameias ruídas, o caminho

          que fora pisado em passos incertos e olhos no horizonte, reverentes

          como os das crianças que agora seguem em fila a caminho do mar


© Fotografia: pedro serrano, junho 2021.

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