27 abril 2022

DESTAQUES DA SEMANA: Guterres vai ao Kremlin/ A Justiça vai à merda

1. Após uma gestação elefantina, o secretário-geral da ONU decidiu-se ir a Moscovo, ralhar com Putin. Adornado no seu canto da mesa, Guterres não se cansou de falar e expor razões, dando sustento ao cognome de Picareta Falante. No âmbito da linguagem gestual, mais parecendo um enviado da Santa Sé, o secretário-geral erguia continuamente as palmas das mão em prece a Vladimir, tal um S. António a pregar às chinchilas. 

Por seu lado, a seis metros, na outra cabeceira da mesa, Putin ouvia a cegarrega com o seu ar indiferente e encapotadamente zombeteiro, enquanto com a ponta dos dedos ia debicando ciscos no tampo da mesa, como se estivesse a aproveitar o tempo para a deixar mais limpa e ainda mais branca. Quando lhe chegou a vez, explicou a Guterres a velha teoria que, por cá, tão bem prega o PCP: foi a Ucrânia que, em 2014, começou tudo isto, que não há invasão nenhuma, nem massacres nem atropelos de direitos humanos, a não ser da parte dos ucranianos, e que o melhor que a ONU poderia fazer era deixar-se de coisas e reconhecer as repúblicas do Donbass e arredores.

O mesmo tinha já anteriormente dito à nossa pomba da paz o casca-grossa do Lavrov, ministro dos negócios estrangeiros do Império Russo. Ao sair da sala de reuniões onde tinham decorrido as conversas iniciais, pejada de jornalistas, Guterres, mesureiro como é, executou polidas flexões de pescoço aos presentes. Lavrov deixou-o passar à frente e quando chegou a sua vez de cruzar o limiar da porta arqueou os ombros e expôs os braços à assembleia, como quem diz: "vejam, é isto que temos de aturar."

Pela amostra, verbal e não-verbal, não espero nada de nada de toda esta canseira, e o futuro comportamento dos russos na frente de batalha dirá se não assistimos apenas a um bailinho à moda do Kremlin. 

"Dr." João Villas Boas, o amigo de Rendeiro.

2. Por cá, a Justiça continua imparável a não fazer justiça e a desfazer o ínfimo que se vai conseguindo. Recentemente, o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, num dois em um, anulou a sentença que condenara o psiquiatra João Villas Boas a uma indemnização e à (justa) expulsão da Ordem dos Médicos. Tudo isto teve origem há mais de dez anos atrás, quando o dito tarado violou uma cliente, grávida de oito meses e clinicamente muito deprimida, no conforto do seu consultório (pode rever o que, à época escrevi sobre o assunto, clicando aqui: BOQUIABERTO (ou do perigo de ser careca).

Pois invocando aquelas minudência jurídicas de prazos prescritos, que são consequência do mau funcionamento dela própria, a justiça portuguesa anulou a despesa do Senhor Doutor e obrigou a Ordem dos Médicos a reintegrar na organização o violador encartado. Exemplar, mas há mais: Qual foi o primeiro grande acto clínico que o encarnado psiquiatra praticou para celebrar vitória e demonstrar a sua reintegração na sociedade? Pois, senhores, foi o de passar um atestado médico a João Rendeiro (o vigarista que, abençoadamente, se encontra sob custódia da justiça sul-africana), no qual atesta, por sua honra, que Rendeiro sofre muito do coração e deve ser acarinhado em ambiente limpo e onde possa fazer ginástica, pois de outro modo o seu coraçãozinho poderá não aguentar aquelas prisões tão escuras... 

Rendeiro na companhia de violadores.
Pergunta o leitor medianamente comum: mas o homem não é, mesmo que só mais ou menos, psiquiatra? E atreve-se a passar atestados à cardiologista? Sim, é mesmo isso, passa, com a maior das latas. Estão bem um para o outro, dir-se-ia, e a Justiça portuguesa, enlameada no contexto, está o costume: uma merda!   

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