09 abril 2022

DESTAQUES DA SEMANA: Vá-se lá entender as louras

Da esquerda para a direita: Chanel, loura e tesoura.

1. Três modelos e influencers russas filmaram-se a destruir carteiras Chanel e, em nome do sacrifício patriótico, divulgaram as eventrações nas redes sociais. Todas tinham acabado de descobrir o fogo pátrio que pulsava nos seus interiores, embora uma delas tenha candidamente confessado que o que a indignara mais fora terem-lhe recusado a venda de uma carteira Chanel no Dubai. A ela!

Mas, para mim, o mais curioso de tudo isto é que todas essas beldades louras usaram arma branca para perpetrar a profanação dos adereços: basicamente tesouras, geralmente de trazer por casa, embora uma delas fosse tesoura da poda, um utensílio podendo já ser considerado como "arma pesada". A nenhuma lhe apeteceu a ideia, igualmente patriótica, de usar uma kalashnikov, de arremessar a bolsa de um sétimo andar, de a incendiar com gasolina ou gás natural ou, até de descer à rua e engastar a carteira sob as lagartas de um tanque russo, sendo certo que, nos dias que correm, esta última estratégia fosse mais complicada de pôr em prática uma vez que os tanques andam todos a ocidente, nas lamas da Ucrânia.

 

2. Entretanto, no Público, Carmo Afonso, uma das cronistas que o jornal ofereceu a si próprio recentemente, escreve que "Por cada vez que alguém compara o BE e o PCP à extrema-direita morre um passarinho silvestre, seca uma flor campestre". Eu já tinha desconfiado, pela designação geral das crónicas da senhora (Sementes de Alfarroba), que dava a Carmo Afonso para um bucolismo sustentável, desta vez até rimável. Fui procurar ao Google qual o eventual significado simbólico da alfarrobeira e das suas sementes. Seria por ter sido usada, no antigo Egipto, na preparação de múmias? Não me parecia... Seria por a farinha de alfarroba ser conhecida pelo "chocolate dos pobres" e a cronista ser tão tão pelos desfavorecidos? Ou será por, prosaicamente, Carmo Afonso ser algarvia, região onde mais abunda este recurso vegetal? Continuei às escuras, mas sempre buscando a luz: talvez que a alfarroba transmita uma ideia de esperança, de futuro, aquela coisa das sementes que germinam, mesmo no solo ingrato; já a Bíblia falava disso. Por mim, prefiro-a à sobremesa, em coligação com o figo e a amêndoa. 
De cima para baixo: Carmo Afonso e mâscara comunitária.

Mas, sobretudo com esta crónica de Afonso de que vos falo, ficou estabelecido para mim que a loura advogada é acérrima defensora do direito ao contraditório, dos pontos de vista complementares e, apesar de o seu coração bater todo à esquerda, concede até que Zelenskii venha falar à Assembleia, desde que se lhe "exija que não seja acompanhado por combatentes de extrema-direita". Aqui, confesso, fiquei confuso com o raciocínio da senhora: Zelenski, sempre que fala a parlamentos ou equivalente, costuma aparecer sozinho e concentra tudo quanto tem a dizer na sua imagem. A quem estaria ela, afinal, a referir-se? Ou seria somente para arredondar a dialética? Por outro lado, imaginando que o presidente ucraniano tencionasse vir falar-nos rodeado de combatentes da extrema-direita, como se iria precaver que o homem não fizesse tal? Enviar-lhe, previamente, um questionário, como fez a Ursula von der Leyen para a entrada da Ucrânia na UE? Uma coisa em que houvesse quadradinhos para ele por uma cruzinha suástica/não suástica? Espero que a cronista do Público, que quando nos estende as mãos é apenas para desvendar ocultas rosas, esclareça todas estas dúvidas, para que gajos politicamente pouco ilustrados (como eu) não corram o risco, mesmo que por trôpega inconsciência, de esborrachar mais um pardal ou pisar uma outra flor de alfarroba.

Da esquerda para a direita: Silvestre e Piu-Piu.
Antes de me ir, permito-me, em nome da Warner Brothers e da cultura popular, chamar a atenção de Carmo Afonso para um paradoxo - aparentemente insanável e podendo levar até ao aumento da escalada da violência - contido na sua expressão "passarinho silvestre". É que, deste ponto de vista, Silvestre é um gato, o passarinho chama-se Piu-pui e, desde tempos imemoriais, pássaros e gatos não têm sido uma combinação feliz, pelo menos enquanto não lhe mudarem no ADN os cromossomas politicamente incorrectos.

Sem comentários:

Enviar um comentário