Em Goa, a areia, nas praias, é fina e macia como farinha
Branca de Neve e, melhor ainda que pisá-la, é estar sentado a uma esplanada e
enterrar os pés nela enquanto se aguarda uma lagosta grelhada que, enquanto
grelha e não grelha, vai sendo acalmada por uma sopa de tubarão ou umas gambas douradas.
Estávamos exactamente neste cenário, com o sol a afogar-se
no mar sem um queixume, quando se acercou uma mulher de vestes esvoçantes,
pinta vermelha na testa, as mãos penduradas de cruzetas e um bonito sorriso de
acostagem.
Os indianos, para além de exímios comerciantes, gostam de
conversar e saber coisas sobre as pessoas com quem falam: de onde somos, se já
tínhamos estado na Índia e onde, qual é a nossa profissão, religião, quantos
filhos temos, por aí fora. É vulgar isto por aqui e, de igual modo e com
prazer, eles respondem a todas as questões que lhe desejarmos por.
Após uns minutos de conversa e depois de lhe termos dito que
não íamos comprar nada ela quis saber se “may be tomorrow” e estendeu-nos a mão
para um bacalhau de despedida, apresentando-se:
“My name is Sari, and yours?”
Ao ouvir-me o nome, ela fez um ar surpreendido e, como quem
não acredita no que está a ouvir, pediu que o repetisse, que o confirmasse.
“Pedro”, respondi, já preparado para acrescentar o clássico
“it means Peter in english”. Mas, feliz, ela partilhou, de imediato, o motivo
da alegria:
“Pedro, is an Indian name!”
Lá lhe tentei explicar que tudo se passara um bocado ao
contrário, que há seiscentos e tal anos o Vasco da Gama etc. e tal, mas acho
que ela não acreditou muito na minha versão e ficou na sua.
© Fotografia de Pedro Serrano, Goa, Janeiro 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário