Por esses dias, quando batia à porta
da casa da rua Cesário Verde, a Dominique (a menininha loura da foto) devia andar
pela idade e pelo tamanho do Patrick, o irmãozito sentado à esquerda. Quanto à
Tati, a cadela que nos mira com o ar ternamente façanhudo, já atingira o
tamanho definitivo com que aparece na foto e assim ficou na minha memória para
sempre, mesmo hoje, que deve passar as tardes a rilhar uma nuvem em forma de
osso lá no céu dos cães.
Mas por esses dias, quando batia à
porta da rua Cesário Verde, às vezes era a Dominique que, vivendo o ano inteiro
em Bruxelas, vinha atender a correr, a saudar os tios que não via às longas
eternidades que são os meses na infância. Numa outra chegada, num outro Natal
ou num outro Verão era a Tati que, pressentindo em ultrassons a chegada, se
antecipava a quem puxava o trinco e me saltava em cima numa excitação
igualmente saudosa.
E eu, brincalhão, naquela confusão
similar de situações, abraçava, abanava a Dominique entre os braços, e comentava:
“Tati, como estás grande...”
E ela, na identidade ainda algo vacilante
de quem tem três anos, num riso inseguro, reclamava comigo, olhando
simultaneamente para a cadela que saltitava à nossa volta:
“Eu não sou a Tati, sou a Domi, a Tati
é aquela ali...”
Quanto
á Tati, na sabedoria de quem já tem barbas, nunca se importou nada que eu a
tomasse nos braços e lhe trocasse o nome pelo da minha sobrinha.
© Fotógrafo desconhecido, anos 90.
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