26 setembro 2014

FAZ DA TUA CHOUPANA O TEU CASTELO

Ainda não são bem seis da manhã e já há claridade em Luanda, uma luz plúmbea, que foi barrada no seu jorro por um céu carregado de nuvens sujas que parecem anunciar chuva. É uma ilusão tropical: estará assim até ao fim da manhã e depois o céu vai-se abrir, como uma flor exótica, numa revelação de azul e sol crocante.
Aqui em frente à minha janela do nono andar há um musseque, um bairro de lata, portanto, que o Jorge S., noutra janela do hotel, julgava, a uma  distância de olhos mal habituados, desabitado, tal é o seu ar desolado e caótico de vazadouro de chapas e lixo.

Mas uma teleobjectiva faz milagres de subjectividade. Fazendo-a passear-se sobre os detalhes, irrompem no meio da massa confusa as antenas parabólicas, um aparelho de ar condicionado espreita aqui e acolá, há roupa a secar numa corda, uma luz ficou acesa toda a noite, como quem anuncia a porta de um lar para alguém que pode chegar tresmalhadamente fora de horas.
© Fotografia de Pedro Serrano, Luanda, Setembro 2014.

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