O meu pai sempre detestou o mês de Novembro, que me lembre nunca explicitou os motivos, mas recordo o preguear de nariz ao referir-se à sua chegada.
Agora que nada posso confirmar junto dele resta-me especular sobre os motivos da aversão. Talvez pudesse ser até uma razão pessoal, relacionada com uma qualquer experiência de má memória, mas relembrando a sua personalidade rural, alicerçada em ciclos telúricos, a razão era provavelmente a situação encalhada de Novembro na roda do ano.
Setembro traz consigo uma acalmia em relação aos excessos do Verão, é o mês das vindimas, do armazenar de tesouros para o Inverno, contém uma certa alegria activa após o ensurdecimento e a inacção impiedosa de Agosto. E Outubro tem dias suaves, as cores na Natureza são de beleza admirável, as temperaturas consolam porque são muitas vezes melhores do que o esperado. Depois, Dezembro tem esse tom de esperança, esse milagre inexplicável que é o Natal, por muitas voltas que se dê, por muitas críticas que se lhe façam; um momento todo especial, que assinala o mês como uma marca registada. Mas Novembro... Não há esperança que se associe a Novembro, Novembro é uma espécie de segunda-feira dos meses do ano. As noites tomaram nitidamente conta do dia, o frio instala-se com crueldade, a terra despiu-se e encolhe-se, até o que não tem remédio, se celebra nesse mês como o dia dos Fiéis Defuntos! Novembro traz todas as gamas de cinzento à tona.
Em Novembro, o meu pai deixou-se ir à deriva; não havia costa suficientemente à vista.
© Fotografia de Pedro Serrano, Praia da Areia Branca 2010.
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